Sociologia

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Karl Marx - continuação

Tópicos:

  1. Motivação de Marx
  2. Ideologia marxista
  3. Mais-valia
  4. Classe para si
  5. Diferença entre a teoria marxista e as outras teorias sociais
  6. Ditadura do proletariado
  7. Crítica de Marx a Hegel
  8. Consumismo e lazer

Motivação de Marx: vimos, na aula passada, como Marx vai contra as idéias liberais, como o surgimento da sociedade a partir de um contrato social. Na verdade, para ele, a sociedade surgiu das relações de produção. Essas relações de produção são responsáveis não só pelo surgimento da sociedade mas do Estado. Ele considera o Estado como sendo a superestrutura política que rege as relações sociais, que surge das contradições entre proprietários e não-proprietários dos meios de produção. Há, entre os proprietários, uma competição constante, uma concorrência, com o interesse maior de enriquecer. Para não se destruírem, eles criam regras de convivência.

É necessário que essa força da classe dominante seja distribuída de tal forma que fique legítima. Estado ≠ sociedade. Marx ataca as idéias de estado de Natureza, Direito natural, contrato social, sociedade civil... os indivíduos abrem mão dos seus direitos para que eles sejam tutelados pelo Estado (idéia de Hobbes). Portanto este Estado não poderia atuar como instrumento a serviço de uma classe, dizia Marx. O Estado, aparecendo como garantidor da ordem, justiça e moralidade faz com que se perceba que se trata de uma dominação. Aqui entra a ideologia.

Ideologia Marxista: vimos como ela age e como ela dissemina os valores da classe dominante. Usa abstrações, esconde a realidade concreta, se refere aos homens de maneira abstrata, como se fossem todos iguais. Serve para legitimar o salário, para que os operários vendam sua força de trabalho, supostamente para sobreviver. Essa é a concepção de ideologia criticada por Marx; mas devemos ter em mente que suas idéias constituem, por si só, uma nova ideologia.

Porém, juntos, os trabalhadores teriam condições de perceber a ideologia e que o discurso político é uma “farsa”. Teriam condições, também, de perceber o capital como uma forma de propriedade privada diferente das outras.

As propriedades até então davam riqueza aos donos. O capital cresce, se desenvolve, amplia-se... então os autores liberais dizem que o lucro vem da comercialização do produto, enquanto Marx afirma que o lucro deriva das relações de produção.

Como o trabalhador vende a força em troca de um salário, previsto em contrato, então ele é celebrado entre homens livres e iguais, pressuposto fundamental do contrato. Essa alegada liberdade e igualdade é apontada por Marx como parte do instrumento de dominação trazido pela ideologia liberal.

Mais valia: O trabalhador, na verdade, trabalha muito mais do que o previsto. Esse excedente é o que Marx chama de mais-valia, que é, pela teoria de Marx, a real fonte do lucro do produtor. Ela pode ser absoluta ou relativa. Absoluta quando simplesmente se aumenta a jornada de trabalho, e relativa quando o capitalismo está mais avançado, e o capital dos produtores deriva de uma produtividade maior. A mercadoria contém nela o valor do trabalho embutido. Marx fala do fetichismo desse valor associado ao trabalho: o salário é fixado de acordo com o preço da mercadoria. Diz que, quando os trabalhadores perceberem que o lucro do patrão vem da mais-valia, então eles serão capazes de transformar-se em uma classe para si.

Classe para si: classe organizada capaz de lutar politicamente pelos seus interesses. Isso leva à práxis política, que é a ação política consciente e libertadora. Então os integrantes da classe se organizam e começam a lutar por uma sociedade diferente para acabar com as diferenças de classes. Isso tem que ser feito através de uma revolução porque a burguesia tem todo o poder para se manter no poder: o aparato policial e oi político. Portanto, a revolução tem que se dar pela mudança qualitativa (como visto na aula anterior, a mudança qualitativa ocorre com a soma de várias pequenas mudanças quantitativas).

Diferença entre a teoria marxista e as outras teorias sociais: Marx critica as demais teorias por serem utópicas e demasiadamente idealistas; a dele é baseada nas próprias contradições da sociedade capitalista, e são elas que levam à transformação do modo de produção.

Ditadura do proletariado: parte da teoria marxista que deu muita confusão. Seria a convocação dos trabalhadores para o desmonte do aparato de produção. Aconteceria durante um pequeno espaço de tempo em que não existiria mais o Estado burguês tal como era. Mas era um estágio intermediário, em que não existia, ainda, uma sociedade sem Estado.

Marx diz que essa revolução seria a última, pois seria aquela que destruiria o que as outras tentaram destruir: a propriedade privada dos meios de produção. Marx fala que, no capitalismo, o trabalho é alienante. Ele vê o capitalismo pela ótica da divisão do trabalho. Para Adam Smith, a divisão do trabalho era a condição para a riqueza. Marx contradiz Smith ao afirmar que o homem se aliena na produção, pois o trabalhador não tem a propriedade da matéria-prima nem dos instrumentos com os quais trabalha. Então, ele se está separado do produto de seu trabalho, e muitas vezes nem pode comprá-lo.

Essa alienação faz com que o homem seja comandado por forças exteriores. Não é ele o centro de sua vida, e ele não tem condições de escolher suas próprias condições. Salário, trabalho, local, etc.

Crítica de Marx a Hegel: Marx critica a visão filosófica de Hegel, que dizia que “o homem se libertava pelo trabalho; à medida que ele trabalhava, ele também se comunicava, se desenvolvia, fazia amigos, tornava-se criativo, enfrentava e modificava a Natureza; em outras palavras, a liberdade era conquistada, e não era inata...” Não que Marx dissesse que o trabalho não fosse libertador; se era, seria por causa das condições inerentes ao sistema capitalista. O trabalho, na visão histórica, teve sempre uma conotação negativa: escravidão, servidão, luta pela subsistência, condições precárias de trabalho, especialmente no início da revolução industrial, etc.

Como as condições no início do trabalho assalariado eram as piores, Marx mostra que esse trabalho não é libertador, mas opressor. Para ser libertador, o trabalho tem que ser tal que o homem trabalhe para si mesmo, não num sentido egoísta, mas que o faça crescer como um ser humano. Marx também analisa a questão da produção na época dele.

Consumismo e lazer: o consolo trazido pelo sistema capitalista é comprar, consumir. O consumo, em vez de um meio, torna-se um fim. Consumimos como se as coisas fossem desaparecer. Marx dizia que o capitalismo era o modo de produção que traria uma revolução constante: os produtos iriam evoluindo freqüentemente, motivando novas compras. A indústria do lazer, que surgiu próprio séc. XIX a partir dos movimentos sindicais, foi, por esse motivo, considerada uma conquista. Até então, o lazer era tido como um passa-tempo de nobres. Lazer é: no tempo livre, fazer algo que goste. Tempo livre não é o tempo gasto no transito, no supermercado nem na cozinha; essas atividades são obrigatórias.  Aparece, então, a indústria especializada no lazer. Ela vem para “orientar” a diversão das pessoas, e induzi-las a fazer o que está na moda. Assim, o lazer se torna mais uma rotina, e mais uma fonte de renda para os donos. É um novo meio de produção.

Hoje em dia o lazer se transformou em algo violento, pois é lá que as pessoas largam o stress do dia-a-dia. Então é preciso que paremos e percebamos que a vida deve ser uma práxis constante: uma ação consciente libertadora.