Sociologia

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Max Weber (1864-1920)

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Introdução: Weber é um dos mais contemporâneos pensadores da sociologia. Suas teorias são importantes por causa disso. Elas diferem do pensamento positivista. A Alemanha demora a virar Estado Nacional e para conquistar territórios pelo mundo durante a corrida imperialista do séc. XIX. O capitalismo introduzido no país já era do tipo concorrencial.

Enquanto França e Inglaterra se preocupavam com a universalização de seus valores nos territórios conquistados, a Alemanha, por causa de sua diferença em relação aos outros países da Europa ocidental, tem grande preocupação com as diversidades. Assim, os alemães começam a fazer uma análise histórica do mundo. Weber faz um paralelo entre a perspectiva histórica e a sociológica.

Weber diz que o conhecimento não é apenas aprendido, mas também vivido. É uma forma absolutamente diferente de se estudar a realidade social. A Sociologia de Weber é do tipo compreensiva, que requer uma interpretação. A história não é uma simples seqüência de fatos, mas tem um sentido, um encadeamento lógico.

Crítica de Weber  ao positivismo: Weber critica o positivismo no que se refere ao método, que era o das ciências naturais. Ele mostra que para as ciências naturais é possível formular leis gerais e que o interesse delas é o controle dos fenômenos. Controla a natureza aquele que conhece suas regularidades. Nas ciências sociais, o interesse é a estimativa, a previsão, e não o controle. Transformamos em cultura a realidade empírica uma vez que a valoramos. Então por isso há várias visões de mundo. A Sociologia, na visão de Weber, estuda os valores, mas não pode pretender prever o futuro da sociedade, e não se pode fazer uma teoria geral da cultura. Weber é erudito, inteligente, e sua literatura requer pesquisa por causa do grande número de citações de fatos históricos. No entanto, em nenhum de seus estudos sobre as instituições ele fez qualquer generalização. Ele se restringe ao estudo da realidade do Ocidente. Baseia seus estudos numa epistemologia que parte de duas premissas:

  1. Todo conhecimento se refere a valores e interesses;
  2. Esses valores não podem ser hierarquizados segundo critérios objetivos.

É possível um conhecimento objetivo, universalmente válido e científico no sentido mais rigoroso do termo.

Conhecimento e valores do pesquisador: o conhecimento está ligado aos valores, valores esses que não podem ser comparados, mas ainda assim é possível conhecer objetivamente. Isso remete à relatividade da ciência: ninguém pode dizer que, algum dia, a ciência estará acabada. O que temos é apenas um ponto de vista em relação a algum aspecto ou fenômeno. O cientista jamais pode pretender uma teoria geral, nem de uma ciência em particular, nem de todas as ciências. Isso também porque todos os conhecimentos exigem outros conhecimentos, e as ações exigem outras ações. O conhecimento humano é contínuo. A distância entre o conceito e a realidade é enorme.

Quando alguém resolve estudar algo, é porque aquela pessoa acha importante. Portanto, o conhecimento está relacionado aos valores. Então, definido o interesse e o objeto da pesquisa, o cientista deve abandonar esses valores e ser o mais objetivo possível na coleta e análise dos dados para se estabelecer a relação de causalidade entre os fenômenos. Ele deve estar aberto ao confronto, ao diálogo, abandonar seu dogmatismo, suas convicções ideológicas e teóricas e aceitar refutações.

Apesar de ser possível um controle dessas associações cientificas, Weber tinha uma preocupação muito grande com a questão da diferenciação da atitude pratica e da atividade teórica. Ele era professor universitário mas gostava de política, sua família era de liberais, participou da formulação da constituição do Estado alemão, então ele teve que separar a atividade política da acadêmica (prática e teórica, respectivamente neste caso). Deu duas importantes palestras: “política como vocação” e “ciência como vocação”. O professor, segundo ele, deve mostrar os dois ou mais caminhos aos alunos, mas não doutriná-los.   

Múltiplas perspectiva para se analisar um fenômeno: ninguém consegue conhecer completamente um fenômeno. O capitalismo, por exemplo, foi estudado de um ponto de vista pelos liberais. “O sistema econômico baseado na troca e na formação de riquezas” era uma forma de descrevê-lo pela perspectiva liberal. Já Marx o analisou de outro ponto de vista: queria mostrar que o capitalismo era baseado na exploração da mão-de-obra alheia, a mais-valia. Weber, por sua vez, descrevia o capitalismo pela ética religiosa.

Logo, quanto mais pontos de vista temos sobre um fenômeno, mais conhecimento temos sobre ele.  

Podemos dividir a pesquisa de Weber em dois momentos:

  1. Contexto da descoberta: ligado aos valores, não há controle possível.
  2. Contexto da validação: quando o cientista abandona os juízos de valor e deve agir com rigor científico para chegar a conclusões fidedignas.

Racionalização: o eixo dos estudos de Weber é: o homem situado historicamente, o homem agindo, o homem realizando essas mudanças históricas. O fio condutor de tudo isso é a RACIONALIZAÇÃO do mundo ocidental onde houve condições para a implantação do capitalismo, analisando desde o tempo dos gregos antigos. Esse racionalismo ocorre também em outros lugares, mas não como no ocidente, que é de modo ilimitado. A racionalização significa a especialização científica, um meio técnico, o uso da razão e de instrumentos para se alcançar o melhor resultado, o melhor rendimento. É um movimento que ocorre no ocidente, que não significa que esse racionalismo não vai se espalhar por outras partes.

Quando ele fala isso, a diferença entre Ocidente e Oriente era enorme. Hoje as coisas estão mais parecidas, inclusive por causa do próprio desenvolvimento e globalização. A racionalização, segundo Weber, não significa progresso. Os homens primitivos tinham muito mais controle de sua vida antigamente. Hoje em dia, entramos num elevador, dirigimos um carro, passamos um cartão de crédito, sem ao menos ter um por cento de noção do que realmente está por trás do funcionamento de cada um desses itens. A racionalização não tornou os homens mais confiáveis nem mais amorosos. O indivíduo que se organiza, por exemplo um criminoso racional não é menos criminoso do que aquele que atuava numa sociedade tradicional. A racionalização trouxe um desencanto do mundo (expressão muito utilizada por Weber), no sentido de que houve uma desmistificação dele. O homem deixa de acreditar em espíritos, em demônios, e se a morte não tem mais sentido, também não tem a vida.

Frase muito interessante de Weber: “A racionalização, sob a aparência de um otimismo que não conhece mais limites, não passa, talvez, de um pessimismo que organiza o desespero.”

Só se pode falar em progresso em termos quantitativos, mas nunca em termos qualitativos.

Conceito de Sociologia de Weber: ela deve compreender a ação social, que é o ponto de partida da teoria dele. Durkheim, ao contrário, coloca a sociedade como ponto de partida. Para Weber, é o indivíduo que, com suas ações, configura a sociedade. A Sociologia é, portanto, “a ciência interpretativa da ação social, sua causa, seus efeitos.”

Weber, ao contrário de Durkheim, não aceita que existem estruturas sociais já dadas, como se elas pudessem existir fora das ações dos indivíduos.

Esquema Ação social – sentido:

Ação social

Sentido

conduta humana dotada de sentido. É social porque se refere ao(s) outro(s). Não é um ato isolado, é um processo. Cada ato anterior é fundamento do ato seguinte, até que o processo se completa. (*)

é preciso compreender o sentido subjetivamente. O motivo é o pensamento da ação. O sentido permite perceber o nexo entre os valores, e contém os elos significativos que formam o processo da ação. O sentido é visto na pergunta: “porque essa pessoa está pondo esse papel dentro do envelope?”

Weber cria o conceito de relação social, um desdobramento do conceito de ação social. Algumas ações ocorrem porque são legitimadas. O esquema acima será completado na próxima aula, com a adição das seguintes colunas ao quadro: agente individual, tipo ideal, legitimação e dominação.

(*) Por exemplo: enviar uma carta: quais são as etapas? Pego o papel e a caneta, penso, escrevo, ponho no envelope, vou aos Correios, pago pelo selo e envio. Cada ato constitui um elo de toda essa cadeia, que por sua vez constitui a ação social.

Tipologia Weberiana quanto aos tipos de ações ideais (não existem de forma pura na realidade):

Próxima aula: racionalização do Direito.

Próxima prova remarcada para o dia 19/6. Dia 16, aula anterior, haverá revisão.

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