Economia Política

terça-feira, 4 de novembro de 2008


Oferta e demanda de dólares

Na aula passada falamos do câmbio. A taxa de câmbio, assim como outras coisas da Economia, é o preço. O preço pode ser tomado em moeda local ou estrangeira. A taxa de câmbio do Brasil é a relação entre o Real e o dólar. Ou seja, quantos Reais são necessários para se completar um dólar. A taxa de câmbio, sendo nada mais que um preço, nos oferece uma condição de entender as intenções de demanda e oferta de dólar na economia brasileira.

Mas o câmbio reúne algumas nuances bem interessantes. Ao trabalharmos com ele, veremos que um dos elementos a ele associados, a taxa de câmbio, aparece nas informações que se dão continuamente sobre o câmbio. O noticiário televisivo nos dá a taxa de câmbio diariamente. Precisamos apenas sair do senso comum de espectador. Temos várias terminologias que nem sempre são precisas. Em geral, quando falamos que “o câmbio subiu”, falamos que o dólar está mais caro, e que pagamos mais Reais para a cada dólar. O termo popular nem sempre é o usado pelos especialistas. O sentido coloquial também requer um pouco de reflexão para entendermos. Óbvio que, no sentido mais popular, as pessoas procuram entender o fenômeno da maneira mais simples.

No momento em que trabalhamos com o câmbio, veremos vários regimes cambiais: a análise que se faz normalmente dos tipos de câmbio mostra duas possibilidades extremas. Uma delas é a chamada taxa de câmbio fixa. Outro extremo é a taxa de câmbio flexível ou taxa de câmbio futuro (usa-se mais freqüentemente a primeira).

Há, entretanto, uma parte que é a combinação dos dois. E, dependendo do momento e das circunstâncias da economia, essas combinações podem assumir diferentes denominações. Vamos por partes, para organizar as idéias. Vamos tentar ver primeiro a idéia mais comum que é a da taxa de câmbio flexível ou câmbio flexível. Ele tem uma mecânica muito parecida com a dos preços no mercado. Precisaremos disso quando trabalharmos com a oferta e demanda.

Como a taxa de câmbio é o preço, podemos tratá-la, para fins de análise, como preço e a quantidade de dólar como uma quantidade. Quando estudamos a oferta e demanda, víamos os gráficos do preço dos bens em função da quantidade demandada. A mesma coisa ocorre aqui. Quando vemos a taxa de câmbio determinada pelo mercado, sendo o câmbio flexível, podemos fazer uma análise determinada, e até fazer um gráfico.

Oferta e demanda de dólares

Como visto no  gráfico acima, há a oferta e a demanda de dólares. Nesse contexto, a demanda e oferta irão interagir e determinar o preço do dólar. O cruzamento das duas curvas determina a taxa de câmbio, ou seja, o preço do dólar em reais.

Temos, como contraponto, o câmbio fixo. Nele, nada se desloca. Por isso vamos trabalhar mais com a taxa de câmbio flexível e depois ver o câmbio fixo para, então, falar das combinações possíveis entre os dois regimes.

Vamos então tentar caracterizar que fatores estão por trás da demanda e oferta. Começando pela oferta, porque é mais intuitiva. Ao analisá-la, temos que pensar, obviamente, em todos os agentes econômicos que patrocinam ou que trazem dólares para dentro do país, ofertando dólares. De fato não é difícil constituir os principais responsáveis pela oferta de dólar. O dólar é fabricado nos EUA, mas é uma moeda internacional. E a oferta depende de alguns agentes econômicos.

Grupos de ofertantes

Os turistas estrangeiros são a primeira fonte de dólares. Eles trazem dólares do país de origem para gastar aqui com sua estadia e outras coisas. Até mesmo se comprarem passagens de empresas aéreas brasileiras. Os turistas então são importantes na oferta de dólares do país.

Mais importante que eles são as exportações. Os exportadores são uma fonte importante de dólar porque eles vendem mercadoria, recebem em dólar, e esses dólares entram no país, que contribui fortemente para a oferta local.

Temos também as empresas estrangeiras que montam coisas aqui. Quando elas montam uma segunda fábrica, ou se expandem, elas fazem investimentos no país, deixando dólares.

Bolsa de valores: há estrangeiros querendo rendimento aqui, então aplicam na Bolsa de Valores aqui no Brasil. Isso também aumenta a quantidade de dólares no país, através do BACEN, que converte os dólares deles em Reais e então os estrangeiros compram papéis aqui.

Empréstimos e financiamentos obtidos para financiar qualquer projeto no Brasil. Digamos que o governador Arruda queira expandir o metrô do DF e o Banco Mundial tem uma linha especial de crédito para financiar obras de infra-estrutura em diferentes países. Arruda apresenta o projeto, o Banco Mundial se interessa e faz o fianciamento. Assim, ele libera a parcela correspondente em dólares, que repassará em reais para o GDF, que fará o metrô.

Ainda quanto aos empréstimos, as empresas podem recorrer a empréstimos feitos no estrangeiro, que obviamente traz dólares para cá.

São elementos que fazem parte do grupo de ofertantes, que desempenham o papel de trazer dólares para dentro do país. Eles suprem o mercado interno.

Grupo de demandantes

Paralelamente a isso, há a demanda por dólares.

A demanda se manifesta através das contrapartes dos ofertantes. Quem compra dólares são os turistas brasileiros. Há normas para a compra de dólares, mas o “grosso” dos turistas brasileiros representa uma quantidade considerável de dólares demandados.

Importadores: são o contraponto dos exportadores. Eles demandam dólares para comprar produtos do exterior.

Investimentos de empresas brasileiras no exterior: observamos que também entra a demanda por dólar. Em sentido contrario, podemos chamar isso de aplicações e investimentos no exterior. Demandar-se-ão dólares para fazer tais investimentos.

Financiamentos: estrangeiros que demandarem financiamentos aqui o farão em dólar.

Por fim, os empréstimos.

A oferta e a demanda entrelaçadas

O que importa é caracterizar a oferta e demanda como um conjunto de fatores que estão continuamente transferindo dólares dentro do mercado.

Vamos imaginar aplicadores estrangeiros na Bolsa de Valores do Brasil. Eles estão com dinheiro aplicado no mercado de capitais brasileiro em papéis. De repente, eles precisam de dinheiro para encarar algumas dificuldades financeiras em seu país de origem. O que fazer? Eles oferecem seus papéis, normalmente no mercado de ações, transformando-as em Reais. Isso significa que, dependendo do volume, aumentará a oferta de papéis, fazendo com que seu preço caia. Na hora que aumenta o volume de papéis, a bolsa apresenta queda, porque os papéis estão, em geral, mais baratos. Depois disso, trocarão seus Reais por dólares ao fazer a transação com seu próprio banco em seu país.

Logo, eles irão tomar dólares. Isso faz com que a taxa de câmbio suba, pois houve um aumento na procura por dólares. Por isso que vemos freqüentemente nas notícias: “a Bolsa de São Paulo opera em queda, enquanto o dólar teve alta de 0,7%...” é comum a bolsa cair enquanto o dólar aumenta e vice-versa.

É daí que vem a oferta e a demanda por dólares.

Temos o mercado de câmbio que é feito de oferta e demanda, e vamos ver o que ocorre. Por que eu posso dizer que a taxa de câmbio é flexível? Porque qualquer mudança na demanda ou oferta pode alterá-la. Digamos que por algum motivo o Brasil atrai mais turistas estrangeiros. Ou então os produtos Brasileiros começam a ter uma aceitação muito grande no mercado internacional. Quando estudamos o mercado de bens, o que ocorreria num caso desses? Aplicamos um raciocínio análogo aqui. Ao aumentar a oferta de dólares, a curva de oferta se desloca para a direita:

Oferta aumentada

No momento em que isso ocorre, passa a haver excesso na oferta de dólares em relação à demanda, o que faz com que a taxa de câmbio caia. Ela variará de TC para TC’ (note que, no gráfico, o sobrescrito está meio apagado, mas o valor no eixo das ordenadas (vertical) é TC'). Digamos que a taxa de câmbio seja de R$ 2,00/dólar. TC’ será menor, talvez refletindo a relação de R$ 1,80/dólar. Há queda da taxa de câmbio, ao mesmo tempo dizemos que ocorre uma valorização do real. Quando o noticiário diz: "houve uma queda no câmbio" podemos interpretar a notícia como “queda na relação Real/dólar”. Isso significa uma valorização da nossa moeda ou desvalorização do dólar.

Nós também poderíamos ter outra situação: o aumento na demanda. 

De repente os Brasileiros querem importar mais, fazer mais turismo lá fora, ou qualquer outra coisa que signifique aumento de demanda de dólares no mercado interno. Isso significa um aumento na taxa de câmbio aqui. A curva de demanda também se desloca para a direita. O aumento da procura por dólares faz com que a relação Real/dólar diminua; o dólar encarece e o real desvaloriza:

Demanda aumentada

Se o governo não quiser que a taxa de câmbio caia, isso significa que ele quer mantê-la no nível TC’. O que o governo deve fazer, então? Comprar dólares, simples. Ele compra dólares de forma que tanto a curva de demanda quanto a de oferta se deslocam ao mesmo tempo, em sincronia. O BACEN entra como novo participante no mercado comprando dólares.

O problema começa quando surgem grupos querendo ter ganhos extras com isso. Eles apostam numa valorização do dólar para ganhar. Quando eles surgem, acontece o que chamamos “ataque especulativo”. Eles fazem isso para aumentar a procura do dólar e então enriquecer com a valorização. Lula criticou a Aracruz Celulose e o Grupo Votorantin por causa dessa prática.

Vamos fazer tudo em um:

O que é uma taxa de câmbio fixa? É uma taxa de câmbio determinada pelo governo. Ele tem prerrogativa para isso. A taxa estabelecida pelo governo pode ficar muito distante ou muito próxima da realidade do mercado. A taxa de câmbio fixa refere-se a quando o governo fixa a taxa de câmbio a determinado patamar. A taxa de câmbio flexível ou flutuante é o outro extremo. Quando trabalhamos com a taxa de câmbio fixa, o governo tem que continuamente monitorar o câmbio. Sendo flutuante, ele deixa que o próprio mercado a regule.

O governo coloca dólares para que os agentes econômicos comprem. A intervenção do governo para que a taxa de câmbio não flutue significa, portanto, uma contínua reposição de dólares, feita de acordo com a política monetária. Se, por outro lado, o governo não quiser que o dólar baixe muito, por exemplo ao ceder às pressões de exportadores, ele pode aumentar ou reduzir a quantidade de Reais. Então, a taxa de câmbio fixa significa que a razão Real/dólar não varia, mas a quantidade de Reais na economia varia a todo o momento.

Se a taxa de câmbio é flexível, o BACEN não intervém. A quantidade de moeda na economia não se altera; o que se altera é a própria taxa de câmbio.

No câmbio fixo, a quantidade de moedas (Reais) flutua, para cima ou para baixo. Mas a taxa de câmbio se mantém constante. Ou seja, a quantidade de moeda varia, mas a taxa não. Para isso, o governo tem que fazer movimentos compensatórios. Nessa hora que ele pode emitir títulos para resgatar moedas em excesso no mercado, aumentando a dívida pública.  É óbvio que manter a taxa de câmbio fixa tem custo.

Quando usamos o câmbio flexível, nada disso ocorre. A oferta monetária é invariante, porque o governo não precisa monitorar o câmbio, e a taxa de câmbio efetivamente irá subir e descer.

O governo, entretanto, tem outras opções. Ele pode buscar uma combinação desses dois extremos. Introduziu-se, no Brasil, desde Collor, as bandas cambiárias. Digamos que seja TC a taxa de câmbio em algum momento. O governo estabelece uma taxa de câmbio que vai de TC-v até TC+v. “v”, aqui, representa o módulo da variação. Dentro desse intervalo, o câmbio é flutuante. O governo só não deixará ele exceder esses valores máximos e mínimos.

Banda Cambial

Note, no gráfico acima, que os valores de TC, representados pelos círculos verdes nas intersecções, nunca estão fora do intervalo que vai de TC-v até TC+v, ou seja, estão sempre dentro da banda cambial. Se a intersecção entre as curvas de demanda e oferta (as bolas verdes) ameaçarem exceder os valor de TC-v para baixo ou TC+v para cima, o governo intervirá. Portanto, quando falamos em câmbio, há situações de combinação. Banda cambial, administração do câmbio, etc.