O que mais nos importa é entender a economia brasileira hoje. Mas, para isso, é importante saber sua origem Em função do próprio curso dos acontecimentos, foi bom ter visto a questão da política monetária e política fiscal.
O que vimos na aula passada foi o câmbio, o balanço de pagamentos, e então poderemos fechar umas idéias sobre o pagamento.
Entendemos o câmbio flutuante, o câmbio fixo, como se articula a questão cambial com o resto da economia. O custo de manter a taxa de câmbio é manter alterações constantes na quantidade de moeda na economia. Se temos uma determinada taxa de câmbio, que é a quantidade de Reais necessários para adquirir cada dólar, se o governo não quer que ela se altere, ele terá que interferir continuamente na economia.
A moeda e as divisas internacionais são demandadas e ofertadas em qualquer troca de mercadorias. Devemos analisar pelo lado da oferta e da demanda. Há uma continua oferta e demanda de dólar, e podemos representá-las graficamente.
Digamos que houve um aumento da oferta de divisas: a curva de oferta é deslocada para a direita. Isso significa, sem alterar a demanda, uma pressão para diminuição da taxa de câmbio.
Isso significa, por sua vez, que a relação real/dólar cairá, ou seja, há uma valorização da moeda local. A oferta de dólares fica excessiva à taxa de câmbio, e o excesso tem que ser absorvido pelo BACEN. Como o Banco Central absorve? Comprando-os, ou melhor dizendo, comprando divisas. A oferta de reais no sistema é aumentada. A idéia do câmbio fixo significa que o custo de manter a taxa de câmbio fixa pode representar um aumento na oferta de moeda.
E, se por outro motivo, ocorresse um aumento na demanda por dólares? Haverá desvalorização do real. Surgirá uma demanda de dólares excessiva à taxa de câmbio. O BACEN, se quiser manter a taxa de câmbio como está, deverá entrar em jogo vendendo divisas para injetar mais dólares no sistema. Isso significa retirar reais da economia. A manutenção da taxa de câmbio, portanto, requer a contínua intervenção do governo, com resultado de variação na oferta e demanda de reais e dólares.
Isso pode ter implicações nacionais. Por exemplo, principiar uma inflação. Para retirar os reais, o governo emite uns títulos da dívida pública interna. É o custo da política de câmbio fixa, que pode ser relativamente alto. Isso pode se complicar: por exemplo, se analisarmos o investimento direto externo, e inclusive há estudos interessantes sobre isso, na área de relações internacionais, veremos que tem sido muito tensa a coisa. Vamos ver um dado que já pudemos observar: nos dias de hoje, a indústria automobilística brasileira, ao compararmos com o que era a mesma indústria no ano 2000 ou um pouco antes, veremos que ela está muito mais diversificada. Hoje há mais marcas que montaram suas fábricas no Brasil. Não havia, por exemplo, Citroën, Peugeot e Renault. Elas investiram aqui. Também a indústria alimentícia: quase toda ela está na mão de estrangeiros. Os nomes foram mantidos, mas os investimentos são de fora. O produto, para o consumidor, não muda. Isso representa uma forte entrada de investimentos estrangeiros. O setor financeiro brasileiro, que tinha poucos bancos privados na época em que tudo era fortemente estatal, com cada estado com seu banco, mudou completamente. Primeiro porque os bancos estaduais foram praticamente todos privatizados. A privatização também significa aplicação de capital financeiro externo.
Banco Real: era do estado de Minas Gerais. Foi privatizado e vendido para o grupo ABN AMRO da Holanda.
Isso tudo significa divisas entrando aqui. Se estamos num cenário de taxa de câmbio fixa, isso requereria uma intensa participação do governo para evitar que essa enxurrada de dólares (divisas) representasse um aumento brutal da quantidade de reais na economia. Isso poderia, inclusive, afetar a dívida pública brasileira.
Isso, é claro, se o Brasil usasse a taxa de câmbio fixa. Tudo isso desaparece quando trabalhamos com a taxa de câmbio flexível. Todas essas preocupações somem. É uma das razões que leva as nações, o Brasil inclusive, a partir para o uso de taxa de câmbio flexível. Vejamos um pouco de história recente do Brasil, e também o porquê de ele ter mudado sua postura nesse sentido.
Voltemos a 94. Esse ano representou um marco na economia brasileira por causa da adoção do Plano Real. Em 86 houve o Plano Cruzado e outros, num cenário em que havia muita inflação. Inflação é algo que existe aqui desde a proclamação da República. Os problemas foram sempre atacados pontual e paliativamente.
Começou uma era no Brasil de planos de estabilização, com Sarney. O primeiro plano mais amplo e mais desenhado foi o Plano Cruzado em 1986. Teve um sucesso relativo. Collor também fez suas tentativas, que não deram certo. Isso deixou uma herança ruim na economia brasileira. Em 93, adotou-se o Plano Real, por FHC, que então era Ministro da Fazenda no governo Itamar Franco. Lula, nessa época, estava sumido; quando assumiu, manteve o real em sua essência. Entre 94 e 99 a prática cambial do Brasil era a das “bandas cambiais”, com um limite inferior e um superior. Depois, cismaram que a taxa de câmbio real/dólar brasileira estava muito alta, o que dificultava a administração monetária. Isso requereu queda do sistema de câmbio entre as duas moedas. O Brasil passou a praticar taxa de câmbio flexível. Ninguém sabia o futuro.
Lula aproveitou isso e, quando ficou evidente que ele ganharia, o dólar disparou. Muitos dos interesses de estrangeiros aqui ficaram abalados, porque pensaram que ele iria promover uma onda de estatização, e começaram a remover o dinheiro do pais. Isso significa converter reais em dólares, ou seja, demandar dólares. Isso implica em um aumento da pressão sobre a taxa de câmbio, o que fez com que o Brasil tivesse uma escalada no preço do dólar.
Isso deixou todo mundo preocupado. Mas aí Lula anunciou sua sinistra ¹ equipe econômica e então perceberam que o medo não tinha fundamento. Quando a taxa de câmbio passa a ser flexível, ela reflete os humores da economia. Se, por exemplo, eu supuser agora que a taxa de câmbio não é mais fixa, e pode flutuar, o efeito que se dá é no próprio câmbio. O que acontece é que, quando trabalhamos com a taxa de câmbio flexível, quando surge o aumento na oferta de dólares e divisas, ninguém faz nada. A curva de oferta ou demanda por divisas simplesmente se desloca, e a taxa de câmbio, pela posição do cruzamento no gráfico acima, varia de posição também. Ela desce se aumentar a oferta, e sobre se aumentar a demanda. Como o câmbio é variável, não há porque ficar intervindo na economia com a compra e venda e divisas a todo o momento.
Só que continuaram havendo intervenções esporádicas. Ainda ouvimos no noticiário que o BACEN andou comprando ou vendendo dólares, enquanto a taxa de câmbio variou, etc. O dólar tem aumentado, e a nossa moeda tem se desvalorizado. Essa direção contínua de aumento do preço do dólar tem levado a que o Banco Central tente evitar esse aumento por causa da atual forte demanda por dólares. Ele percebe a rapidez na demanda e então intervém para manter a taxa com uma taxa de variação não tão forte, para que as reservas nacionais fiquem protegidas. As intervenções pontuais são chamadas de “intervenções sujas”.
Falamos disso porque o câmbio tem várias implicações importantes. Veremos algumas delas em nossa economia.
Vejamos as variações cambiais: valorização ou desvalorização. Vamos primeiramente fazer uma análise da desvalorização cambial. Quais as conseqüências que a desvalorização cambial traz? Primeiramente, a balança comercial é afetada, ou seja, as exportações e importações. Também têm efeito sobre a inflação, em muitos casos. Pode provocar também efeitos no balanço de pagamentos. Vamos ver, primeiro, os efeitos sobre a balança comercial.
Efeitos sobre as exportações: como sabe-se que a desvalorização (aumento da taxa de câmbio) significa um aumento da razão real/dólar ², pois o dólar está sendo valorizado. É assim que denominamos, em geral. O efeito sobre as exportações é positivo, no sentido de aumentá-las, e há um efeito negativo nas importações, no sentido de desestimulá-las.
Note que a maioria dos países colocam a moeda local no denominador e os dólares no numerador. Se fosse aplicado aqui, é o mesmo que dizer: para um dólar, quantos reais preciso? Muito cuidado com a montagem da razão, é fácil se confundir. Mas o Brasil e alguns países, ao longo do tempo, instituíram a maneira atual, com "reais por dólar". Porque as exportações são estimuladas? Ora, os produtos são vendidos em dólar. Para cada dólar de exportação, lembrando que o exportador recebe já em reais, ele receberá mais reais. Simples. Então, se ele exporta um lote de calçados no valor de 100 mil dólares à taxa de câmbio de 2/1, ele receberá R$ 200.000,00. Mas se a taxa aumenta para R$ 2,20/dólar, então o montante recebido pelo exportador é de 220.000 reais.
Ao mesmo tempo, por cada dólar gasto com importação, o importador terá que desembolsar mais reais. Se ele importa uma máquina que custa 10.000 dólares no mercado internacional, ele precisará de 20.000 reais para a custeá-la à taxa de 2/1. Mas, se ela aumentar para 2,20/1, então ele pagará 22.000 reais. Isso significa um claro desestímulo a importar.
Analogamente, podemos entender facilmente que um aumento do real frente ao dólar produzirá exatamente o efeito contrário.
Qual a tendência da balança
comercial, então, quando existe uma desvalorização do real? Ela é beneficiada porque estimula
positivamente as exportações e negativamente as importações, e ela tende a ser superavitária.
Mas, o que é mais interessante ainda é o efeito sobre a inflação. O que é mesmo inflação? Um aumento persistente e generalizado nos preços. Como que ela pode ser afetada pela taxa de câmbio, através de que? Através das importações. Então, por exemplo, se tivermos uma desvalorização cambial, como vimos, as importações ficam mais caras em reais. Suponhamos que vamos importar uma matéria prima essencial para a indústria, o trigo. Ao ter uma desvalorização cambial, o trigo fica mais caro para importar. Sendo ele um componente importante para a indústria alimentícia nacional, o custo dessa indústria aumenta. Como os empresários têm a prerrogativa de repassar para o consumidor o aumento de preços, uma inflação será deflagrada. O trigo é uma matéria-prima que repercute na alimentação de todos os brasileiros. O nível de preços domésticos, portanto, será elevado: está configurada a pressão inflacionária. Isso tudo quando acontece uma desvalorização do real.
Vamos comparar com o que está acontecendo hoje. O governo e os governos do mundo estão preocupados não só com o crescimento econômico, já que, quando essa crise estoura, as bolsas também estouram, e ela extravasa da área financeira. O que é bom para os exportadores também acaba sendo ruim. Se a taxa de câmbio for reduzida, tudo ocorre ao contrário: as exportações são prejudicadas. É a hora em que os empresários procuram pressionar o governo para adotar medidas para elevar o câmbio.