Economia Política

terça-feira, 14 de outubro de 2008


A Política Monetária

Hoje vamos falar da política monetária. Dentro desse assunto há a moeda ou dinheiro. Tudo que passa pela questão monetária funciona em termos de moeda.

Se alguém perguntasse a nos o que é moeda ou dinheiro, a resposta deveria ser uma definição ou conceito de moeda. A idéia de dinheiro é algo muito trivial, em que estamos habituados desde a tenra idade a entender; os pais têm que ensinar os filhos a manusear o dinheiro bem cedo. Mas quando deparamos com a necessidade de refletir um pouco mais sobre o que é dinheiro, temos que estudar mais aprofundadamente, saindo do senso comum.

A moeda, em geral, é definida por alguns como pagamento ou recebimento por qualquer tipo de transação na economia. Entretanto, apesar de não muito complexo, temos que entender mais aprofundadamente o conceito de moeda. Por ora, dizemos simplificadamente que ela serve para "lubrificar" as transações.

A moeda, como qualquer coisa da economia, também pode ser ofertada e demandada. Todos os agentes econômicos necessitam e demandam a moeda para diferentes coisas. Existe uma oferta de moeda. Antes de ver a oferta e demanda, vamos ver a idéia da moeda:

Temos um conceito muito básico de que a moeda surgiu como uma necessidade do mercado. Com Adam Smith, que é precursor da teoria econômica, e que escreveu inicialmente sobre a natureza e causa de alguns fenômenos economicos, já definia um termo chamado “divisão social do trabalho”. É um conceito simples, que fala, na verdade, da especialização, dentro da atividade econômica, ou da dissociação entre produção e consumo. Ao longo da história da humanidade, quando o homem foi se organizando, foram surgindo naturalmente o que chamamos de dedicação, ou talento natural, ou ainda aquisição de conhecimento de determinados indivíduos na realização de certas tarefas. Caça, por exemplo. Por alguma razão, aquele indivíduo nasceu com isso, e é um sujeito que tem facilidade para descobrir técnicas, perseguir animais, criar artes e armas de caça, enfim, ele se sobressai nesse aspecto. O sujeito com esses atributos acabará se especializando na arte de caçar. Se tornará, portanto, um especialista em caca. Nesse momento, ele passa a dedicar todo seu tempo para a isso, para aprimorar o oficio. Mas se ele fechasse em si mesmo, dentro da sua habilidade, ele teria que viver apenas da caca dos animais que abatesse. Se tivermos nessa mesma sociedade um sujeito que consegue identificar áreas e características do solo mais apropriadas para a produção de milho, bem como identificar as estações, esse sujeito depois de pouco se tornará especialista na agricultura. Se ele ficar fechado em si mesmo, ele ficará dependente apenas da agricultura de subsistência. Digamos que este indivíduo se especializou no cultivo de milho.

O caçador, então, vai um pouco além de seu oficio, criando um excedente, buscando trocar um pouco do excedente com aquele que produz milho. Eles, juntos, poderão variar a dieta, e terão beneficio mútuo. Isso é o que Adam Smith começa a falar em especialização e divisão do trabalho. O consumo está dissociado da produção de milho. O produtor de carne consome o milho mas não participa da produção de milho; o produtor de milho come carne mas não caça.

Suponhamos agora um professor que, ao longo da vida, acaba se dedicado à atividade docente. Não obstante ele tem que comer e consumir. Então, ele venderá sua habilidade no mercado e obterá renda para consumir o resto das coisas que precisa. O mesmo para o advogado. Vale tanto para quem produz bens ou serviços. A especialização é uma coisa natural. Mas, com essa especialização, começam a surgir alguns problemas.

Suponhamos que Pernalonga produz carne e deseja um mocassim. Quem faz mocassim é um outro sujeito, chamado Patolino. Pernalonga produz carne em excesso e, ao oferecer a Patolino, vê que ele é vegetariano. Então, a relação não se consuma. Uma economia de troca pressupõe que algo que sobra deverá sempre ser desejado por alguém. É exatamente em função disso que a moeda surge. Ela começa a surgir como um elemento comum das trocas. Não precisamos mais ir lá no extremo norte da cidade para buscar algo. A moeda é um elemento comum que começa a ser aceito pelos indivíduos de vários lugares. Um desses elementos é o gado. No princípio, a riqueza de alguns indivíduos é medida pelo numero de cabeças de gado. Então, Pernalonga, o caçador, pode ir lá no dono dos bovinos e dar a carne em troca do gado. Assim, dá-se, depois, o gado para Patolino em troca do mocassim.

Até hoje temos resquícios disso. A palavra pecuniário é algo muito especifico para as finanças. Vem de “cabeça de gado”, pecus. A palavra salário vem de “sal”, do tempo em que as legiões romanas estavam em campanha muito longe de Roma, e recebiam o pagamento em sal, que era algo relativamente raro e valioso naquela época.

Em diferentes épocas, diferentes produtos exerceram essa função de objeto de valor aceito por uma coletividade.

O que se destacou foi a descoberta dos metais preciosos. Ouro, por exemplo, pela resistência à oxidação, maleabilidade, passou a ter uma importância muito grande, e começou a desempenhar essa mesma função. A partir daí, começaram a se cunhar moedas de ouro. Especialmente na época dos senhores feudais. As pessoas compravam e vendiam coisas usando o ouro como moeda. O ouro tinha o valor intrínseco, que era a própria moeda em si, com um peso associado. Se compararmos com hoje, a quantidade de metal dentro de uma moeda de um real vale bem menos que um real.

Os súditos, eventualmente, descobriram que alguns outros metais que poderiam entrar na composição da moeda e, na calada da noite, descobriram como incrustar certos metais menos nobres num certo volume de ouro para diminuir a porcentagem de ouro gasto, como fazem os traficantes hoje ao misturar farinha com cocaína.

Mas o ouro é difícil de transportar. As carruagens de transporte de valores eram um prato cheio para saltimbancos. Durante uma época o comércio se deu dessa maneira, até que, um dia, surgiu uma nova modalidade de moeda para o comércio: com o tempo, veteranos começaram a oferecer serviços de guarda de ouro, em que se comprometiam a guardá-lo com a própria vida, se fosse o caso. Então, ele punha o ouro em seu armazém protegido e dava um certificado ao dono do ouro. De posse desse papel, os mercadores descobriram que não precisavam mais transportar o ouro; eles podem viajar e, ao fazer transações, pagar com aquele pergaminho assinado. Nele, eles transferiam a propriedade do documento para a pessoa que comprou a mercadoria. É o início da moeda-papel. O descendente é o cheque. A essência é a mesma.

Então surge um desmembramento dessa atividade. Os tais guardadores de ouro percebem o seguinte: à medida que ficavam mais populares, os depósitos ficavam cada vez mais carregados. Há sempre uma proporção do ouro que fica lá, imóvel. Então ele pensou em ganhar dinheiro com isso: teve a idéia de passar a emprestar esse dinheiro para qualquer um que precisasse de financiamento para qualquer empreendimento. É o embrião dos bancos. Começa a surgir uma atividade de utilização de fundos comuns que são negociados no mercado.

Vemos, então, que a moeda está ligada à produção, no auxílio de seu escoamento. É essencial para que a produção possa ser transferida.

Até 1971, o dólar tinha sua correspondência direta com o ouro. Mas o que garante que a moeda tem valor real? Cada moeda tem uma propriedade chamada curso forçado. Cada cédula está assinada pelo ministro da fazenda, pelo presidente do banco central, etc. Essa é uma manifestação do governo autorizada por lei.

O mesmo para a libra esterlina, que tinha seu correspondente em ouro.

No Brasil do império mesmo, a própria moeda era atrelada ao ouro.

O curso forçado leva a que toda unidade monetária fabricada e liberada o é feita pelo governo. O Banco Central determina a oferta de moeda de acordo com o numero de moedas em circulação. Subordinada ao Banco Central há a casa da moeda. Logo, o governo monopoliza a oferta de moeda. As questões monetárias são definidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), enquanto o Banco Central (Bacen) executa as decisões.

Também precisamos olhar o lado da demanda por moeda. Há toda uma elaboração para descobrir como é constituída a demanda por moeda.

A procura por moeda é melhor entendida se observarmos as razões ou motivos que levam as pessoas a querer dinheiro e adquirir coisas. É chamado motivo transacional. É a parte do dinheiro que as pessoas querem para fazer suas compras de bens comuns. Só conseguimos adquirir coisas se tivermos dinheiro para isso. Qual a outra razão pela qual as pessoas desejam dinheiro? Não somente isso. Há um outro motivo. Ninguém tem bola de cristal para prever o futuro. Os indivíduos em geral têm uma incerteza quanto àquilo que está por vir. Ninguém pode garantir se as coisas estarão amanhã do mesmo jeito que estão hoje. Então, os indivíduos se previnem. É o motivo precaução ou motivo precaucional.

Então entramos no terceiro motivo: motivo especulação. É a moeda especulativa. Pode-se guardar patrimônio na forma de bens raízes e imóveis, na forma de títulos, ou na forma de dinheiro ou moeda.

A poupança não pode funcionar como moeda; ela é uma quase-moeda, pois ela carece da liquidez. Os bens raízes e imóveis são expressos em valores monetários, mas não tem a necessária fluidez. Logo, consideraremos apenas os títulos e o dinheiro como forma de guardar patrimônio.

Então, o que é especulação? Não é a incerteza propriamente, mas é a projeção de algo que é esperado. Um levantamento de hipóteses; lidar com expectativas. Especificamente falamos em moeda ou dinheiro desejado ou não pelos indivíduos ou pelos agentes em função da expectativa que tem ou constroem com base no comportamento futuro da taxa de juros.

Digamos que Hortelino Trocaletras tenha R$ 100 mil em dinheiro e R$ 100 mil em títulos.

O fenômeno é: quando a taxa de juros aumenta, o valor de mercado ou preço de títulos cai. E vice-versa. Com base nisso, constrói-se uma expectativa de que a taxa de juros deve cair. As pessoas pensam: "a taxa de juros está muito alta, ela só pode cair agora." isso significa que, ao mesmo tempo, está-se criando uma expectativa de que o preço das ações vai aumentar. Então, Hortelino passará a ter R$ 50 mil em dinheiro em R$ 150 mil em títulos.

Por outro lado, se a expectativa de Hortelino é de que suba a taxa de juros, o preço das ações diminuirá. Logo, não será negocio ficar com os títulos, mas vendê-los. Ele passará a ter, então, R$ 150 mil em dinheiro e R$ 50 mil em títulos.

Os negócios acontecem justamente porque as expectativas diferem. Por isso duas pessoas entram essa relação. O grande problema é quando há uma convergência de expectativas.