Economia Política

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Política monetária – continuação

 

“Dinheiro parado tem custo.”

Se tenho R$ 1.000,00 na carteira, esse dinheiro é meu. Posso aplicá-lo na poupança. Se ficar com esse volume na carteira, ficarei sem os rendimentos que poderia estar obtendo ao aplicá-lo. O custo do dinheiro parado é exatamente o que se deixa de ganhar – rendimentos – em aplicações alternativas.

Significa dizer o seguinte: peguemos a taxa de juros. Quanto maior for a taxa de juros praticada no mercado, maior é o custo do dinheiro parado. Isso é óbvio. Se a taxa de juros for de 1% ao mês, deixarei de ganhar R$ 10,00 por mês, e dizemos que esse é o custo mensal de deixar esses R$ 1.000,00 parados. Quanto maior a taxa de juros do mercado, menor a demanda por dinheiro, pois assim será maior o custo (preço) do próprio dinheiro, de acordo com a idéia que acabamos de ver. Quanto menor a taxa de juros, maior a demanda por dinheiro.

Essa é mais ou menos a idéia de demanda por moeda com relação à taxa de juros.

Dito isso, vamos analisar hoje a oferta de moeda mais de perto, para então poder trabalhar com os instrumentos da política monetária.

A questão da oferta de moeda é bem mais tranqüila de entender do que a demanda. Antes de ver a oferta de moeda vamos ver uma coisa:

Temos alguns dados de medidas da atividade econômica, por exemplo o PIB brasileiro de 2007, que foi em torno de R$ 3 trilhões. A pergunta é: essa massa de coisas é vendida. Os bens são demandados e utilizados no processo produtivo, os bens de consumo são comprados pelos indivíduos e assim sucessivamente. Se esse é o valor da massa física, quanto de moeda, de dinheiro é necessário para que a produção física seja totalmente adquirida pela sociedade civil? Qual é o volume de dinheiro para esgotar toda a produção? Seriam os 3 trilhões, mais do que isso, ou menos que isso?

Para responder, digamos que Naruto, Sakura e Sasuke tenham interesses mútuos.

Naruto deseja o tênis de Sakura, que deseja o relógio de Sasuke. Sasuke é agiota e tem uma reserva de R$ 20,00 para emprestar. Por isso, Naruto se dirige a ele e toma um empréstimo de R$ 10,00, e então vira para Sakura e oferece o dinheiro pelo seu tênis. Eles fazem a troca. Sakura, agora com R$ 10,00 no bolso, se dirige a Sasuke querendo comprar seu relógio, mas este vale R$ 20,00. Então, Sasuke empresta seus R$ 10,00 restantes a Sakura, que completa os R$ 20,00 para comprar o relógio do agiota. A soma dos valores dos bens é de R$ 30,00, como se pôde ver. Mas, qual foi o total de volume transferido, ou melhor, volume de dinheiro que circulou nessa seqüência de transações? Apenas R$ 20,00; com esse volume, que é menor do que o valor total dos bens em questão, todos conseguiram ser adquiridos. A chave para entender isso é que a moeda circula na economia. Se não circulasse, então a quantidade de moeda no mercado deveria ser exatamente igual ao valor total dos bens. Em Economia, existe uma proporcionalidade ideal de que, por exemplo em países da Europa e EUA, é em torno de 20 a 25% de toda a produção do PIB é a quantidade suficiente de moeda para que toda a produção seja adquirida pela sociedade. Isso significa dizer que, se a soma dos valores das moedas é igual a cerca de 20 a 25% do valor do PIB, estamos falando de um valor entre 1/5 e 1/4 do valor do PIB. Isso quer dizer que cada unidade monetária gira totalmente 4 a 5 vezes na economia. Essa é uma aproximação abstrata: se ela sai de um ponto, ela percorre uma trajetória circular completa cerca de 4 vezes até completar o valor do PIB.

A oferta de moeda é prerrogativa e obrigação das autoridades monetárias que devem gerenciar a quantidade física de moeda assim como a maior ou menor facilidade de se obter crédito. Ao invés de falar em coisas muito genéricas, vamos tratar de outro assunto: a crise atual. Ela está sendo combatida pelos bancos centrais dos países. Eles estão comprando e jogando dinheiro nos bancos que estão em crime e com problemas financeiros. O Banco Central do Brasil está jogando dólares na economia para evitar que o câmbio tenha um comportamento errático e venha a comprometer a estabilidade aqui.

O BACEN é um banco diferente. É, na verdade, o banco que gerencia e normatiza todo o sistema bancário brasileiro. Estabelece normas, níveis de taxas, também atua como interventor em caso de qualquer suspeita ou prática efetiva de má administração bancária, como o Banco Santos, em que o proprietário comprou uma enorme mansão e muitas obras de arte. O BACEN interveio. Ele está continuamente monitorando tudo; é o banco dos bancos. Além de monitorar, ele auxilia os bancos, logo ele tem um papel crucial.

É um banco do governo. O Tesouro Nacional é o órgão do governo que toma conta das contas do país. Mas, em qualquer atividade bancária, é o BACEN que age. Suponhamos que o governo, por exemplo, quer emitir títulos da dívida. Quem emitirá os títulos será o Tesouro, mas quem os injetará no mercado será o BACEN.

Como banco do governo, ele é principalmente o emissor de títulos da dívida do Tesouro Nacional,  estabelece a taxa de juros básica da economia (SELIC - Sistema Especial de Liquidação e Custodia). É também o executor da política monetária definida pelo CMN, o Conselho Monetário Nacional:

Então vamos concentrar nossa análise da política monetária nisso aí.
 

Instrumentos da política monetária

O primeiro é a taxa de depósitos compulsórios (TDC) dos bancos comerciais.

A seguinte coisa a se estabelecer é o que chamaremos de operações de redesconto (para bancos comerciais). Depois temos as operações de mercado aberto e finalmente a taxa de juros.

O que é a TDC? É algo que diz respeito à origem dos depósitos compulsórios; eles vêm da segurança bancária. No passado, quando os bancos tinham uma concorrência muito forte entre si, eles estavam sujeitos aos humores do mercado. Por exemplo, estavam em disputa concorrencial o banco A e o banco B. Vamos supor que o A está indo muito bem, emprestando dinheiro, fazendo várias aplicações e tendo uma bela receita. O sucesso do banqueiro está no volume de negócios que ele abre. Mas, entretanto, uma das coisas que deixa qualquer banqueiro doente é dinheiro parado (dinheiro estocado tem custo, lembra?). Por mais dinheiro que ele tenha armazenado, se o banqueiro não o coloca para render, ele será um péssimo banqueiro. Ele tem que realizar ganhos e rendimentos das aplicações. Se A tem muito sucesso, ele está realizando uma série de operações. B é invejoso, e não consegue ser ágil como o banco A. Quando não havia segurança bancária, o pessoal do banco B poderia até usar de um boato para minar o sucesso do A. Falariam, por exemplo, que o dinheiro de lá é de operações instáveis. Com muito medo, os correntistas iriam rapidamente a uma agência do banco A retirar o seu dinheiro. O que era boato, então, se tornaria verdade. O banco A não consegue cumprir seus compromissos e vai à falência. Isso era comum no final do século XIX, antes dos bancos se precaverem. Para evitar isso, foi criada uma espécie de “programa de auxilio aos bancos”, chamado deposito compulsório. Por ele, ficou possível, com o surgimento dos bancos centrais, a se fazer o seguinte: cada banco é obrigado a manter uma proporção, em porcentagem, do total de depósitos que ele tenha, numa conta administrada pelo BACEN. Esse dinheiro não ficará disponível para empréstimo; o depósito compulsório é uma taxa estabelecida sobre os depósitos à vista que os bancos são obrigados a manter junto ao Banco Central.

Se eventualmente começar um rush de correntistas vindo à boca do caixa retirar dinheiro, o banco rapidamente liga para o BACEN para solicitar aquele dinheirinho de reserva.

Exatamente por ser assim, o depósito compulsório é um instrumento poderosíssimo, porque os bancos conseguem controlar a atividade monetária e a criação de mais moeda.

Suponhamos que recebi uma herança, que incluía um título do Tesouro Nacional. Ao resgatá-lo, o dinheiro passa a ser circulante. Empresto para alguém, que futuramente me devolverá com algum juro. Se a taxa do depósito compulsório subir, a liquidez da moeda diminuirá, dificultando a ocorrência de inflação.
 

Operação de redesconto

Outro ponto da oferta monetária é a operação de redesconto.

De acordo com o Dicionário de Economia ¹, operações de redesconto são “operações realizadas entre o Banco Central e os outros bancos, visando o aumento de liquidez dos bancos, para compensar o aumento da concessão de crédito. O redesconto consiste na venda ou modo de desconto, por parte dos bancos junto do Banco Central, de letras e livranças já descontadas, segundo uma taxa de juro - taxa de redesconto. Através da política de redesconto, o Banco Central estimula ou não a procura do crédito e controla a liquidez da economia. O Banco Central pode aumentar a taxa de redesconto, nos casos em que houver excesso de moeda, “diminuindo-a em alturas de fraca liquidez.”

Os bancos, em geral, mantêm títulos no mercado. Trabalham com investimentos e várias outras aplicações, não apenas depósitos dos correntistas. Em geral, os bancos fazem negócios de curto prazo, diariamente, e às vezes eles precisam de dinheiro. Qual é a principal forma de conseguir isso? Indo ao BACEN e pedindo o desconto de títulos. Isso é chamado redesconto. Essa operação é importante porque afeta a quantidade de dinheiro à disposição do mercado. Exemplo: nota promissória.


http://www.esfgabinete.com/dicionario/?completo=1&conceito=OPERA%C7%D5ES_DE__REDESCONTO