Economia Política

terça-feira, 18 de novembro de 2008



Breves revisões

 

Funções do Estado na economia

São três:

  1. Alocativa;
  2. Distributiva;
  3. Estabilizadora.

Alocativa: a idéia desta função se associa com os recursos produtivos. A função alocativa surge e tem relação com o uso mais eficiente dos recursos, que não necessariamente ocorre na economia por causa das falhas dea economia de mercado.

Nós estudamos as falhas de mercado bem antes, quando falamos sobre a  concorrência perfeita e as características da economia de mercado.

Uma dessas falhas são as externalidades negativas.

A externalidade negativa é qualquer efeito voluntário ou involuntário que a ação de um agente econômico pode causar a terceiros. Emissão de gases, por exemplo. A externalidade é positiva quando um determinado indivíduo toma uma atitude para o bem próprio que inesperadamente beneficia, por tabela, os outros.

Outras duas falhas são:

As falhas de mercado levam a que os recursos produtivos não sejam usados da melhor maneira possível.

Quanto à oferta insuficiente de bens públicos, dissemos que eles são bens que exigem uma forte dose de capital mas cujo o retorno é muito longo no tempo e, em geral, as empresas privadas não têm fôlego para empreender em tal setor. Já o Estado não tem problema para isso, pois tem uma fonte constante e segura de receitas. O Estado pode ter dificuldades, mas nunca vai à falência. Portanto, recai sobre o Estado o peso de produzir bens públicos, até possivelmente de forma menos eficiente do que as empresas privadas o fariam, se estivessem nesse mercado.

Informação imperfeita: surge porque, embora em princípio se imagine que toda informação é de livre acesso a todos, não é o que ocorre na prática. A informação fica restrita a certos grupos e atividades, e não chegam ao conhecimento da economia em geral. Um reflexo disso é a onda de corrupção em processos licitatórios. A falta de transparência completa leva a ineficiências no processo e a perdas de dinheiro.

A função alocativa leva a que o Estado tenha que preencher as lacunas deixadas pelas falhas da economia de mercado. Ele tem que entrar na produção de certos itens, para que, embora que não seja a forma ideal do uso de recursos, o Estado tem que entrar para que tudo seja feito de maneira suficiente. Distribuição de água é um bom exemplo.


Processo multiplicador

Leia a questão que está nos exercícios:

5.    O multiplicador do gasto do governo, tal como desenvolvido por Keynes, nos diz que: a um determinado gasto efetuado pelo governo corresponderá um aumento da produção e da renda num múltiplo do valor do gasto original. Como isto é possível?

Vamos ver um exemplo. Mas, basicamente, o que se quer destacar é: sempre que há uma aplicação de recursos na economia, na forma de um projeto, em que o governo realiza qualquer gasto, esse empreendimento terá um impacto sobre a demanda. O efeito multiplicador tenta explicar quais são as etapas e como se dá esse impacto.

Digamos que o governo gaste R$ 100 milhões na economia, gasto esse associado à construção de habitações populares. Esse programa recebe um aporte de R$ 100 milhões. O que acontece com a renda e a produção na economia?

Primeiro, o governo não fabrica nem produz nada. Quando deseja levar a cabo um programa de habitações populares, ele abre uma licitação e contrata uma empresa. Digamos que a empresa “Alpha” vence. Do ponto de vista prático, o governo repassa os 100 milhões de reais para a Alpha proceder à construção das habitações. Ela é uma construtora; tem seus donos e trabalhadores e, obviamente, esses 100 milhões irão, de uma forma ou de outra, se converter em pagamentos e remunerações de todos os agentes da empresa Alpha envolvidos no projeto. São indivíduos que recebem esse dinheiro. Há o dono da empresa, o engenheiro, os pedreiros, etc. Todos recebem uma parcela do dinheiro dado pelo governo, que no total se configura o pagamento-soma de todos os agentes.

Inicialmente, esse gasto do governo se traduz em aumento da renda. É um impacto direto. Digamos que esses indivíduos, ao receberem os pagamentos e remunerações, poupam 20% e gastam 80%. Eles tomarão os R$ 100 milhões e gastarão o dinheiro em consumo, já que agora eles passam a demandar melhor (estão dispostos a gastar 80% do que receberam) e irão poupar os 20% restantes. Essa proporção nos interessa apenas como referência, é um exemplo. Veja que o impacto inicial no gasto do governo é de R$ 100 milhões. Quando ele passa para as mãos dos agentes da empresa Alpha, eles comprarão bens no mercado. Talvez um engenheiro comprará um automóvel, o pedreiro irá comprar uma geladeira, outro irá comprar alimentos, etc. Isso tudo significa despesa geral. Então, numa primeira etapa, os R$ 100 milhões se convertem em remunerações que por sua vez irão levar ao consumo.

Mas tais indivíduos da empresa Alpha comprarão de quem? De outros produtores! Eles, quando gastarem os 80% do que haviam recebido, converterão esse dinheiro em recebimentos daqueles de quem comprarem seus automóveis, geladeiras, alimentos, etc., ou seja, dos agentes envolvidos na produção desses bens, agentes esses que fazem parte da sociedade. Eles recebem 80% daquele valor inicial dado pelo governo à Alpha. Esses agentes econômicos de segundo nível também consomem. Admitindo que a propensão marginal a poupar se mantenha igual ao observado nos agentes da empresa Alpha, eles também consumirão 80% do que receberam. Isso significa que consumirão 80% dos 80% iniciais, que equivalem a 64% dos 100 milhões, e pouparão os 20% do que receberam. Como receberam 80%, ao poupar 20% disso, terão poupado 16% do dinheiro inicial cedido pelo governo e assim sucessivamente.

Chegamos à conclusão de que o efeito do gasto do governo de R$ 100 milhões leva a uma ampliação do consumo. Os R$ 100 milhões são o gasto original. Então, o aumento da renda será de R$ 100 milhões + os incrementos associados a cada nível do consumo. Podemos dizer que o aumento do gasto do governo provoca um aumento na renda geral da sociedade que é igual ao produto do multiplicador pela variação nos gastos:

ΔR = M. Δg

Em que:

Vamos, então, substituir os valores do problema. Queremos saber  o valor de ΔR, que é a variação (aumento) na renda da sociedade. O multiplicador está diretamente ligado à porcentagem da renda que o indivíduo recebe que ele resolve poupar. Quanto mais ele poupar, menos consumirá, e menos os níveis seguintes receberão em renda. Então, 

ΔR = 1/0,2 . 100 (em milhões de Reais)

...em que Δg é a variação no gasto do governo: R$ 100 milhões, no caso, que foi a quantia destinada ao projeto.

Logo, ΔR = R$ 500 milhões. ¹²

Suponhamos que a propensão marginal a poupar fosse de 100%. Assim, a propensão marginal a consumir é de 0. Nessas condições, qual seria o impacto do gasto do governo sobre a renda? Nulo, porque o consumo não existirá, e a renda não passará nem ao segundo nível.

O exercício consiste em julgar a sentença como verdadeira ou falsa. É verdadeira pois de fato o gasto do governo implicará num aumento da renda da população, e, como a propagação dessa renda se dá em progressão geométrica, o aumento da produção e renda será num múltiplo do valor inicial.


Efeitos da inflação
 

1- Afeta a distribuição de renda provocando perdas para receptores de renda fixa. Um exemplo de renda fixa é o salário. Recebo um salário nominal de R$ 1.000,00 por mês. Com inflação, o salário real é reduzido. Quem vive de renda variável, ou quem vive de lucro, como indivíduos que vivem dinheiro de alugueis, tem como se defender da inflação.

O que o empresário faz, por exemplo? Busca compensar a perda do lucro elevando o preço de suas mercadorias. Isso leva ao espiral preço-salário: os trabalhadores, que também são consumidores, terão que desembolsar mais para comprar os mesmos bens de consumo, o que significa que seu salário real sofreu uma diminuição. Assim, eles se organizam em seus sindicatos e pressionam os patrões para que aumentem seu salário nominal, o que caracteriza um encarecimento da mão-de-obra. Com a mão-de-obra mais cara, a margem de lucro do empresário diminui, e ele inclusive corre o risco de ir à falência, então ele é obrigado a subir o preço de seus produtos. Mais uma vez em dificuldades, os trabalhadores voltam a pressionar por aumento salarial, recomeçando o ciclo vicioso.

2- Afeta o balanço de pagamentos, através da balança comercial.

Balança comercial é a diferença entre volume de exportação e volume de importação. A inflação torna o produto nacional mais caro. A exportação encarece, portanto diminui. Já o produto vindo de fora não necessariamente, então a importação fica mais barata, e a balança comercial tende ao déficit. 

3- Efeito sobre a receita tributária do governo. Há uma defasagem entre o momento em que o governo cobra o tributo e o momento que ele o usa. Nessa passagem de tempo de um mês, uma quantia paga em tributos passará a ter menos valor real. 

4- Muito importante: as expectativas dos agentes econômicos. Podem-se fazer planejamentos com mais segurança e mais facilmente se não há inflação. Planeja-se viajar ou comprar um carro. Com inflação, não se sabe sequer a despesa que se terá no dia da viagem.


Política monetária e instrumentos da política monetária

Os instrumentos são:

  1. Taxa de deposito compulsório; 
  2. Operações de mercado aberto;
  3. Operações de redesconto; 
  4. Taxa de juros.

Vamos ver um exemplo simples: oficinas mecânicas comuns. Chego lá, levo o carro com defeito, o mecânico olha, faz o orçamento, diz que vai custar 300 reais, etc. Como eles trabalham: em geral eles não usam débito em conta. Normalmente, o que fazem eles é pedir um cheque, pode ser em duas vezes, pré-datado. É uma expressão de moeda muito importante que eles convertem imediatamente em coisas, ao comprar novas peças, por exemplo. O cheque pré-datado também circula na economia.

É um processo similar ao que acontece no redesconto. Se eu tomar emprestado e assinar uma nota promissória, posso ficar com ela no bolso até o dia do pagamento. Já está especificado o juro. Pode ser que o detentor queira descontar logo, então ele vai a um banco ou mesmo a um agiota e a desconta, e este cobra uma taxa. É uma típica operação de redesconto. Alguns bancos também comumente aceitam que o cidadão troque um cheque pré-datado, um mês antes da data especificada para depósito, por uma quantia levemente menor de dinheiro em espécie, à vista. 

Quanto maior a taxa que o BACEN cobrar, maior tenderá a ser a taxa de juros do mercado.

 

Câmbio fixo

Taxa de câmbio predeterminada pelo governo. “Cada dólar valerá tantos Reais e não se fala mais nisso". O governo tem que monitorar e intervir na economia a todo o momento. Se a oferta é maior que a demanda, o que faz com que a taxa de câmbio caia, o que acontece é que o BACEN terá que absorver essa oferta excessiva. Ele deve trazer para si essa oferta de dólares. A taxa fixa de câmbio, qualquer que seja a pressão, faz com que continuamente as reservas internacionais do país flutuem. A quantidade de moeda na economia fica variando.


1- Não foram exatamente essas variáveis (ΔR, M) que o professor usou; se não me engano ele usou Δy no lugar de ΔR, mas isso não importa.

2- Se você não entendeu essa explicação, há uma outra muito mais interessante. Sabemos que o "repasse" de renda ao nível seguinte é sempre igual a 80% do que foi recebido, já que os agentes econômicos resolveram poupar 20% e consumir 80%. Logo, se a empresa Alpha recebeu R$ 100 milhões, seus agentes consumirão R$ 80 milhões no mercado, que é exatamente igual a 0,8 . 100 milhões. O pessoal da Alpha comprará de outros produtores, portanto, 80 milhões. Estes, por sua vez, também comprarão de outros produtores, e assim sucessivamente, sempre respeitando a taxa de 80% do que haviam recebido. Como podemos ver, isto é uma progressão geométrica (PG) de razão (q) igual a 0,8. É do tipo decrescente, portanto. Durante o ensino médio, aprendemos a calcular a soma dos termos de uma PG, mesmo que eles sejam infinitos. Se a razão é menor do que 1, como é o caso, então a soma obedecerá a fórmula que já conhecemos:

soma

Vamos substituir. A soma será exatamente igual à variação na renda na sociedade. a1, que é o primeiro termo dessa PG, é igual a 100 (o valor em milhões do gasto inicial do governo). A razão, q, é 0,8, que corresponde aos 80% da renda que é repassada ao nível seguinte no consumo. Logo, 100/1-0,8 = 100/0,2 = 500, o mesmo resultado achado antes!