Instrumentos de
política monetária
A política monetária tem tanta ou mais relevância que a política fiscal e, depois de toda a característica em relação à moeda, à oferta demandada, entramos na questão de como o governo utiliza a moeda para realizar o objetivo econômico, e como ele utiliza a moeda na política econômica.
Ontem à noite Guido Mantega e Henrique Meirelles deram uma coletiva em que tocaram na questão de algumas medidas que o governo brasileiro está tomando com relação à dita crise econômica mundial. Uma das coisas acentuadas é a facilitação do crédito. De uma forma se dá através da liberação de maiores recursos para o financiamento da atividade agrícola, para que não haja queda na produção de alimentos, grãos, etc, enquanto outra medida colocada é a facilitação para as empresas obterem créditos de capital de giro, e, finalmente, discutiram o depósito compulsório, que é a taxa que os bancos são obrigados a salvar e manter num fundo à parte congelado para eventuais adversidades, logo impossibilitado para operações.
No fundo, todas as medidas de política econômica dizem respeito à geração de crédito.
A operação de mercado aberto se dá quase que numa base diária. O que significa? É a continua colocação e retirada que o governo faz de títulos da divida pública no mercado financeiro.
Suponhamos que o governo necessite alguns recursos que não estão previstos no orçamento, para uma situação extemporânea, algo que tenha surgido de repente. Se o governo não tem como recorrer a mais recursos através de impostos, até porque a própria lei tributaria prevê que o que for decidido só passa a vigorar no ano seguinte, o governo pode, não obstante, rapidamente “fazer” esse dinheiro através da venda ou emissão de títulos da dívida pública. Através deles, os bancos os compram, o dinheiro reverte para o governo e ele o utiliza para sua obra não-planejada. Nunca podemos esquecer que, quando o governo joga títulos no mercado, ele tira moedas de circulação e, quando ele compra títulos, resgatando-os, ele está recolocando moeda no mercado. Então, novamente entra a questão do crédito e débito. Cada vez que o governo compra créditos no mercado, ele está colocando moeda em circulação.
Quando o governo compra títulos, dizemos que ele os resgata, e o governo injeta, dessa forma, dinheiro na economia. O inverso ocorre quando o governo coloca títulos no mercado; ele recolhe moedas.
São
as chamadas operações de open market.
Vamos para o último instrumento, que é o mais importante: a taxa de juros.
É
um instrumento mais
quotidianamente usado pelas autoridades monetárias pelo poder que a
taxa de juros
tem de afetar o crédito. Uma subida na taxa de juros, ou mesmo uma
queda tem um
impacto muito mais rápido e direto sobre a atividade econômica do que
outras
medidas. Suponhamos que o governo quer influenciar a atividade
econômica através
de um gasto. Digamos que esse gasto seja na forma de um projeto, por
exemplo uma
estrada.
A taxa de juros, caso o governo resolva reduzí-la, terá efeitos imediatos. Ao cair, podemos olhar pelo lado da produção. O custo do dinheiro fica menor. Muitos empresários poderão levar a cabo seus projetos. Isso significará a procura maior por créditos e empréstimos que, rapidamente, tem um impacto direto sobre a economia porque aumenta a quantidade de dinheiro e a liquidez em circulação.
Segundo, com taxa de juros baixa, as pessoas ficarão induzidas a consumir mais. O custo do crédito ficará mais barato. A taxa de juros influencia rapidamente a economia, de forma quase instantânea. Tanto que, quando olhamos a taxa de juros, vemos que ela é um dos maiores aliados do governo no combate à inflação. Afeta todos os cidadãos.
A
política econômica é uma interferência
do governo na atividade econômica. É o governo influenciando a
atividade econômica,
na forma de aumentar a velocidade ou a taxa de crescimento da economia.
O
emprego deve crescer, mas dentro da expectativa da estabilidade de
preços.
Vimos que tanto a política monetária quanto a política fiscal têm esse
objetivo. São utilizadas para influenciar a atividade econômica. Então
o
governo pode lançar mão de vários desses instrumentos de política
monetária
assim como na política fiscal ele poderia lançar mão dos gastos do
governo,
tributos para influenciar a atividade econômica. A política monetária é
o uso
de instrumentos que o governo tem ao seu dispor para manter em
funcionamento a mecânica
da economia.
Exemplos da vida prática
Quando
falamos em taxa de juros,
obviamente estamos falando que trata-se do governo influenciando a
economia.
Não se trata de decisão da Câmara Federal, com um projeto de lei para a
determinação do valor da taxa de juros; isso é impensável porque a taxa
de
juros é uma variável econômica que reflete os humores da economia; ela
é
fortemente influenciada pelo mercado global.
O COPOM se reúne periodicamente e faz uma avaliação das pressões atuais, e traça uma expectativa de como a economia deve se comportar, e, a partir disso, ele recomenda um aumento ou redução da taxa Selic (Sistema especial de liquidação e custodia), que é uma taxa que reflete uma média das taxas dos papéis do governo. Por isso é chamada de taxa básica de juros, pois é um referencial dos juros praticados no mercado. Cada banco pratica a taxa que lhe convier. O banco oferece um empréstimo ao indivíduo. Ele resolve, automaticamente, conceder ao indivíduo um crédito de R$ 5.000 ou qualquer coisa, por exemplo no caso do cheque especial. O banco faz uma análise do histórico da atividade da conta e, assim, oferece o valor que quiser de cheque especial.
Já viu o CDC automático? Crédito direto ao consumidor. Há créditos de até R$ 10.000. Credita-se na hora na conta do correntista e, obviamente, ele pagará juros sobre esse valor. Uma tentação.
A
taxa Selic tem influência pois,
sendo maior, também os bancos terão seus próprios títulos para liquidar
junto ao
BACEN. Dessa forma, a Selic influenciará a taxa de juros do mercado
inteiro.
É
um assunto que sempre está
presente, embora nós sejamos a “primeira geração brasileira que não
teve convívio
tão de perto com a inflação”, não obstante isso a inflação sempre
esteve
presente na sociedade brasileira. As recomendações do COPOM têm muito
que ver
com o controle inflacionário. No Brasil, aplica-se a política de metas
inflacionárias. O governo define um patamar de preços da economia, em
que
aceita que os preços aumentem, por exemplo, até 3%. Serve para manter a
elevação dos preços dentro do patamar definido. O governo definirá a
taxa de
juros de tal forma que mantenha a inflação dentro desse nível. Mesmo
que
sejamos uma geração que não convive com a inflação no dia-a-dia, vemos
que ela
vai e volta, ainda que num período maior. Ultimamente, por exemplo, o
preço do
arroz e feijão andou aumentando em torno de 50%.
A pergunta que normalmente fazemos em economia é se qualquer elevação de preços significa inflação. A resposta é não. Há as elevações pontuais e momentâneas. Suponhamos que ocorra um problema na natureza que comprometa a safra de arroz. Se ela for comprometida, o arroz ficará em falta no mercado. A oferta cai, mas a demanda se mantém. Isso é uma elevação de preços, mas não é uma inflação, já que, no período seguinte, os produtores se estimularão a plantar mais, e a oferta aumentará, inundando o mercado, ultrapassando a demanda, e o preço deverá vir a cair. Então, o aumento original do preço, por um fator aleatório da natureza, provocará uma queda no preço e no comportamento dos produtores, e logo estabilizará.
Inflação é um conceito que diz respeito a todos os preços, não apenas de alguns produtos. É uma alta persistente e generalizada dos preços numa economia. Só podemos dizer que estamos diante de um fenômeno inflacionário quando todos os preços aumentam e permanecem altos.
Chocolate e coca-cola: os aumentos são inerentes ao próprio mercado desses produtos. Coca-cola é monopólica por natureza. Quanto ao chocolate no mercado brasileiro, há um oligopólio forte. A rigor, tais produtos têm substitutos, mas o mercado deles se mantém forte por causa dos gostos e preferências dos consumidores.
Quando
temos um aumento localizado
de preços de um produto, então podemos dizer que é uma questão própria
daquele
produto.
Como diz o próprio nome, é aquela que surge quando ocorre uma explosão de demanda por bens. A demanda agregada se torna maior que a oferta ou produção de bens. Digamos que temos um descontrole de moeda. Se houver um excesso de moeda, os indivíduos utilizarão o dinheiro para demandar bens, mas essa demanda pode ir além da capacidade de produção dos fornecedores. É associada à procura excessiva pelos bens. É uma inflação caracteristicamente onde a economia não tinha capacidade de dar conta da demanda.
Se
há uma capacidade de oferta
maior que a demanda, ocorre um fenômeno mais raro que é a deflação. Em geral ocorre
localizadamente.
Outra fonte de aumento de preços é pela inflação de custos, que se da pelo lado da oferta. Vamos tomar o exemplo de uma organização trabalhista muito forte no país, como a CUT, que eventualmente consegue deflagrar uma campanha de aumento salarial, alegando que o trabalhador contribui para a empresa, mas não ganha o que deveria... A CUT tem sucesso em pressionar o trabalhador a se mobilizar. As empresas, então, aumentam seu salário. A conseqüência imediata é o encarecimento do fator produtivo. Neste exemplo, estamos supondo que os salários aumentam. Os salários nominais são elevados em função dessa demanda. O que acontece? As empresas ou atendem às reivindicações ou ficam sem produzir. Digamos também que elas cedem a isso e repassam para os preços esse encarecimento do fator produção. Repassam, portanto, ao consumidor, que a partir de agora terá que desembolsar mais para comprar um mesmo produto.
Observação: a questão da elasticidade é relevante apenas quando olhamos um setor da atividade, não em geral.
A origem da inflação se dá no campo da produção, e está restrita à oferta. Outra razão que encarece o fator produção é o aumento do preço de alguma matéria prima, como o petróleo, como nesses episódios em que a OPEP resolve aumentar seu preço deliberadamente.
Às
vezes, as duas inflações podem
se juntar, criando uma espécie de inflação combinada. Há alguns estudos
descrevendo a chamada espiral preço-salário.
Suponhamos que, por algum motivo, os preços dos bens subiram. Os
trabalhadores,
que também são consumidores, tiveram seu poder de compra diminuído, já
que seu
salário real foi reduzido. Então
eles
se organizam para reivindicar o aumento de seu salário real. Se
atendidos, o salário
nominal será reajustado, que por sua
vez leva a um novo aumento de custo de produção e, nesse ciclo vicioso,
há uma
continua alimentação da inflação. O governo, nesse caso, tem que
intervir.
Uma corrente de analistas diz que, muitas vezes, embora a inflação assuma uma aparência de inflação de demanda ou de oferta, na verdade a razão está na estrutura produtiva, na forma como a economia organizou sua produção. Vamos supor, então, uma economia em que haja um monopólio. O monopolista tem um poder tão grande sobre o mercado que pode elevar o preço, apenas com o objetivo de obter lucro. Isso resulta nesse inevitável aumento de preços também por conta da dificuldade de se controlar essa anomalia.
A
inflação estrutural está relacionada com a ineficiência dos serviços
de infra-estrutura fornecidos por uma determinada economia. Essa
ineficiência
eleva os custos dos serviços de infra-estrutura, que pressionam os
preços das
mercadorias.
Nesse
aspecto, tem sido bastante discutido pela imprensa o chamado
"custo Brasil": os altos preços pagos em nosso país pelos serviços
públicos relativamente ao praticado em outros países e os custos
causados às
empresas pela ineficiência dos serviços prestados.¹
O país também pode ter sua estrutura de distribuição da terra de maneira muito desigual. Nós temos grandes latifúndios convivendo com áreas de agricultura de subsistência. Isso é um defeito da estrutura produtiva, e significa que a produção de alimentos é insuficiente. Assim, os preços aumentam porque acaba se gerando uma dificuldade de oferta. É o que defende a corrente estruturalista.
Para fechar, tomamos emprestado o conceito de inércia da Física. ²
Os corpos em repouso tendem a permanecer em repouso a menos que uma força atue sobre ele, o assim como os corpos em movimento retilíneo uniforme deverão permanecer nesse estado até que sofram a ação de uma força. É a Primeira Lei de Newton. Em outras palavras, é tendência que os corpos têm de manter seu vetor velocidade. |
A inflação de hoje é determinada pela taxa de inflação ou pela inflação de ontem, que, por sua vez, terá impacto na inflação de amanhã.
O
comportamento das pessoas é de pensar
que, se há inflação hoje, haverá amanhã também. Desenvolve o que se
chama
cultura inflacionária. As pessoas já esperam que o preço irá aumentar
amanhã.
Isso leva a que o próprio governo comece a aceitar a inflação, então
ele começa
a desenvolver mecanismos para proteger os grupos contra ela, como com
correções
monetárias rápidas. Por exemplo, o governo institui, quanto ao salário,
que, se
a inflação do mês chegar a 10%, também os salários deverão ser
reajustados em
10%. Daí surge a inflação inercial,
típica
daquela em que telefona-se para um lugar para fazer um orçamento, e o
vendedor
diz: “o preço hoje é X, porque amanhã pode ser X+t.”
2- Para matar a saudade.