Economia Política

terça-feira, 30 de setembro de 2008


A macroeconomia

20/11/08 às 14:27 - erro corrigido!

Ao estudar a macroeconomia, estamos mais preocupados com o geral. Quando discutimos os recursos produtivos e fatores de produção, especificamente o fator trabalho, dizíamos que o trabalho é medido pela PEA. Tudo agora é visto em tamanhos grandes. Quando falamos de empregos, sem especificar nenhum segmento ou nenhum mercado em particular, estamos preocupados com a macroeconomia. É ai que entra a questão da política econômica. É uma coisa que tem relação com a busca que o governo deve fazer para manter o nível de emprego e geração de empregos em bons patamares.

O que chamamos de dinâmica econômica que requer que o governo continuamente esteja ativo e atuante na sociedade para manter e dar condições à sociedade de ter boas oportunidades de realização de renda, portanto emprego digno. A intervenção do governo mostra como é importante o papel da política econômica.

Digamos, por exemplo, o fenômeno do baby boom. É comum em cenários pós-guerra. Normalmente, sem perturbações como essa, em qualquer sociedade temos uma taxa de natalidade, uma taxa de mortalidade, e uma taxa natural do crescimento. Há países que estão com a população muito envelhecida, como o Canadá, com famílias reduzidas, e isso fez com que a população envelhecesse muito. Sempre há uma dinâmica natural nisso. À medida que a renda melhora e se distribui melhor, há uma tendência que se estabilize a taxa de crescimento populacional. Mostra-se também que em países menos desenvolvidos a taxa de natalidade é maior justamente pela necessidade de mais braços para trabalhar. Os agricultores viam os filhos como um investimento para a lavoura, por isso era comum que tivessem dez filhos ou mais. E à medida que a economia se torna mais industrial, esse cenário vai mudando. Mas em todo caso, independentemente disso, nos EUA houve um crescimento devido a um fator externo não esperado, que foi o retorno dos combatentes da guerra. O problema que isso suscita para a economia é: essa geração vem como uma tsunami na economia. Quando eles chegam à idade de ir à escola, o governo terá que investir mais em educação. Então, o governo tem que estar sempre caminhando um pouco à frente da onda de crescimento populacional. O mesmo para o mercado de trabalho. Atualmente, inclusive, o governo ainda está na fase final desse plano, preocupado com a aposentadoria e previdência.

Em qualquer sociedade normal, independente do fenômeno que acontece, é necessário que o mercado de trabalho comporte as novas pessoas. Então o governo deve estar, continuamente, monitorando essas coisas e estar em condições de lidar com essa situação e achar meios para não ter um colapso. A partir daí, ganha relevância a parte histórica da política econômica.

Contrapõe um pouco com as idéias neoliberais. O que veremos hoje, então, é o início dessa trajetória que chamaremos de importância da política econômica visando o equilíbrio no cenário de crescimento econômico.

Como podemos medir o crescimento econômico país? Primeiramente, observando o PIB, divulgado pelo IBGE. Há inclusive uma metodologia internacional que deve ser seguida. O PIB é o produto interno bruto. Interno é porque é nacional. A idéia é que essa expressão é um conceito que tenta refletir a riqueza gerada no interior de uma economia. Como é medida essa riqueza? Não é uma idéia muito complexa. Estamos preocupados em saber quanto o pais produz num determinado ano. Porque num ano? Porque a maior parte das variáveis só são mensuráveis em um período.

Por exemplo: dois produtores rurais conversam. Um deles diz ao outro: “rapaz, qual foi sua produção?” E responde:  “Eu produzi 100 toneladas”. Para a quem está de fora, o significado disso teria que ser um pouco mais detalhado. Um pergunta qual foi a produção anual, e o outro respondeu em relação àquele período. Um exemplo claro de uma variável que é medida no tempo são as coisas passiveis de serem medidas no momento. Exemplo: estacionamento pago. Essa variável pode ser alterada pelos fluxos, de entrada e saída de veículos. E a economia, em geral, é assim também. Se alguém disser “a minha poupança é de 320 reais”, esta será uma “variável estoque”. As poupanças se relacionam ao fluxo: tenho que depositar e/ou tirar algo para que ela se mantenha nesse nível.

Como medir? A atividade econômica será medida pela riqueza gerada. A riqueza tem que ser medida por aquilo que se produz. Então, a primeira coisa a fazer, em relação à riqueza brasileira, é listar todos os bens que são produzidos no Brasil regularmente. É uma tentativa, mas é pouco prático. Então, vamos melhorar. Listar então o que se produz e as quantidades. Digamos, por exemplo, os automóveis. As quantidades de automóveis vendidos são medidas em unidades. A quantidade de soja é medida em toneladas, a de combustível em m³ e tecidos em metros lineares:

Automóveis

Unidades

Soja

Toneladas

Combustíveis

Metros cúbicos

Tecidos

Metros

Isso é bom porque dá para fazer uma comparação com o ano anterior. Se o produtor tiver produzido mais toneladas de soja, podemos dizer que houve um crescimento relativo. Alguém pode dizer: “precisamos de algo mais prático, mais completo.” A única forma de fazer isso é expressar em termos de valor. Então, colocamos, na tabela, o preço médio de cada produto: o preço médio de cada unidade de automóvel, de cada tonelada de soja, de cada metro linear de tecido, etc., e aí teremos transformado cada um desses itens em uma quantia total. Ao somá-las, chegaremos a um valor que dirá qual é a produção de bens e serviços produzidos ao final do ano no Brasil.

Produtos

Quantidades

Preços médios em Reais

Automóveis

Unidades

Preço médio da unidade

Soja

Toneladas

Preço médio da tonelada

Combustíveis

Metros cúbicos

Preço médio do m³

Tecidos

Metros

Preço médio do metro

 

Isso tudo é o que chamamos de valor bruto da produção.  VBP’ (‘ é para diferenciar do “P” usado para “produto” ou “preço”.)

Ou então

Produção bruta total P’BT.

É o valor ou expressão monetária da produção de todos bens e serviços gerados numa economia no período de um ano. Isso ainda não é tudo, porque ainda tem um probleminha. É que esse valor não é uma medida fiel, porque incorpora, nele próprio, o que chamamos de economia de dupla ou tripla. Vejamos uma situação para explicar:

 

Lista de produtos, do original para o final

Trigo

Farinha

Pão

 

O primeiro, o trigo, é matéria prima para a segunda (farinha) que por sua vez é uma matéria-prima para o terceiro (pão, o produto final). Suponhamos que seu Zé Lelé fabrica farinha. Ele adquire trigo de alguém e o transforma em farinha. Suponha também que Zé Lelé adquira o trigo por um valor de R$ 100.000,00 e pretende transformar esses cem mil reais em farinha. Mas se ele, por exemplo, vender a farinha produzida pelos mesmos 100.000, a primeira pergunta é: por que Zé Lelé transformou isso em farinha? Não ganhou nada e só se desgastou. Então, ele tenho que ter uma remuneração como dono do moinho. Digamos, então, que ele deixe de ser Lelé e venda a farinha por R$ 130.000,00. 30 mil é o valor que ele adicionou à farinha ao transformá-la.

Ele venderá a farinha para Quinzão, o padeiro, que a transformará em pão. Então, seguramente Quinzão vai vendê-los por pelo menos 140 mil.

Coloquemos esses valores na lista, agora.

Lista de produtos, do original para o final

Valor (em milhares de Reais)

Trigo

100

Farinha

130

Pão

140

Total

370

100 + 130 + 140 = 370. Viu como o trigo acabou sendo computado três vezes? Qual é, então, a única forma de evitar esse erro? É retirar o valor da matéria prima incorporada. Então, devemos somar apenas os 30 mil + 10 mil à matéria prima inicial (o trigo, que vale 100 mil), que são os lucros praticados respectivamente por Zé Lelé e Quinzão. O total correto, portanto, seria de R$ 170 mil.

Para melhorar a medida, então, vamos tomar o valor bruto da produção ou produção bruta total, que é uma medida não confiável, porque contém impurezas; se removermos dela o valor de tudo aquilo que é produto intermediário, ou, melhor dizendo, o valor da produção intermediaria. Chegaremos, assim, ao valor adicionado bruto ou valor agregado. No momento em que somos capazes de fazer isso, podemos observar que a medida muda. Então, agora, quando retiramos daqui o valor da produção intermediaria, chamada de P’I, chegamos ao conceito de valor adicionado bruto ou valor agregado bruto, que é conceitualmente igual ao valor ou a expressão monetária da produção de bens e serviços finais gerados numa economia no período de um ano.  A única diferença é que antes tínhamos todos os bens e serviços que foram substituídos por bens e serviços finais. Isso nos dá uma idéia de que, quando medimos a atividade econômica, devemos medir pelo valor agregado bruto.

Para entender o conceito, vejamos um exemplo: suponhamos que o professor trouxesse para esta sala um automóvel 0km da Volkswagen. A pergunta que se faz é: Esse automóvel é “produção” ou “produto da produção”? A única forma de responder é: os pneus foram fabricados pela VW? Não. Então, os pneus e rodas já caem fora da análise. Vidros: também não foram fabricados pela VW. Seguindo esse raciocínio, ficaremos, no final, apenas com parte do motor, o chassi, e algumas outras peças. A VW comprou muitas peças de outros produtores e montou o carro. É o que chamamos de produto com valor agregado. É isso que mede o PIB.

A própria imprensa nos dá uma noção errada do que é PIB. Quando eles dão uma notícia de crescimento da economia, a noticia em geral é começada assim: no ano de 2007, o PIB brasileiro, que é a soma de todas as riquezas produzidas no Brasil, cresceu 2,7%. É sobre isso que falamos que o governo vai tentar atuar. A taxa de crescimento de um pais é medida pelo PIB, que não é nada mais, nada menos do que a soma dos valores agregados.

O PIB reflete tudo aquilo que é produção interna nas fronteiras. Estamos medindo tudo aquilo que foi resultado da produção interna. Temos várias fábricas. Entretanto, nem todas as unidades produtivas que atuam aqui são de propriedade nacional. Temos, por exemplo, a General Motors. Ela produz aqui dentro. No final do ano, ela manda parte do seu lucro para a matriz. Então, temos uma renda enviada ao exterior que foi gerada aqui, mas que não permanece no país.  O mesmo para a Sadia, que é brasileira, com filial na Argentina. Mesma coisa. Como vemos, o Brasil tem uma renda enviada e uma renda recebida. Brasil é um país que envia mais do que recebe. EUA recebe de muitos países e envia pouquíssimo. Então eles medem em termos nacionais.

O PIB é a referência que temos para dizer se a economia cresce ou não no período de um ano. China cresce muito porque lá estão adicionando valor constantemente: lá há investidores europeus e de todo o mundo.

A política econômica é a forma de promover a geração de mais riquezas. Trabalharemos com a política econômica buscando a maneira como deve ser a influência do governo sobre a atividade produtiva. Lá no início do curso, falamos em sistemas econômicos, e falamos muito da economia de mercado. Quando víamos as imperfeições ou defeitos dela, tinha um especial, chamado instabilidade conjuntural. A economia de mercado não tem uma trajetória muito suave ao longo do tempo. Há momentos em que ela apresenta elevações e quedas, e ela se comporta de modo não-homogêneo. Essa imperfeição deve ser corrigida pelo governo, que deve atuar no sentido de tornar essa trajetória o mais suave possível. É aqui que entra a importância da política econômica. Isso nos leva a outro ponto. A atual crise que vemos no cenário internacional, com a decisão do Congresso Americano de ajudar o sistema financeiro, o que está em jogo é o que vem se falando desde os anos 90, que é o modelo neoliberal. O que entendemos por postura neoliberal em termos econômicos? O neoliberalismo é uma tese que defende o poder do mercado em alocar recursos, direcionar e resolver problemas. É uma espécie de “darwinismo de mercado”, que diz que apenas os mais aptos sobrevivem à concorrência, quando deixamos o mercado ao sabor de suas forças, e o governo se retira para se tornar mero observador. A tese neoliberal ganhou terreno a partir dos anos 90, que foi quando começou a haver o processo intenso de privatizações iniciado pela Primeira-ministra britânica Margareth Thatcher na Inglaterra. Para isso, temos que voltar um pouco na história moderna relativamente recente da economia mundial.

Essa chamada instabilidade sempre existiu. A rigor, a grande mudança que houve na forma de organizar a atividade econômica foi quando surgiu a revolução industrial em 1750. A revolução industrial levou as idéias do capitalismo industrial. O sistema capitalista, baseado na livre iniciativa, foi levado à frente, mas não ficou livre das oscilações. A primeira coisa notória foi a crise de 1929, o chamado "crack" da bolsa de Nova York. Foi o início de um período intenso que dominou o mundo ao longo dos anos 30. O mundo, como um todo, experimentou uma queda no emprego, na renda, na produção, nas empresas, o fortalecimento do nacionalismo exacerbado no terreno político foi um reflexo. Obra de Keynes: defendia a intervenção do Estado na economia.

Vamos ver o que é a política econômica. Entende-se como a intervenção do governo na economia com alguns objetivos: manter ou alcançar altas taxas de emprego e de crescimento econômico, com estabilidade dos preços, ou seja, sem inflação ou com ela no nível mais baixo possível.

Tipos de política econômica:

São as duas principais. Há também a política cambial.

A primeira é aquilo que está no âmbito dos gastos ou despesas do governo voltado a interferir na atividade econômica e também na tributação.

A segunda trata da gestão e administração monetária, política creditícia e taxa de juros. Na fiscal, temos, por exemplo, o PAC. Na monetária, vemos freqüentemente o COPOM se reunindo.