A macroeconomia
Ao estudar a macroeconomia, estamos mais preocupados com o geral. Quando discutimos os recursos
produtivos e fatores de produção, especificamente o fator trabalho, dizíamos
que o trabalho é medido pela PEA. Tudo agora é visto em tamanhos grandes.
Quando falamos de empregos, sem especificar nenhum segmento ou nenhum mercado
em particular, estamos preocupados com a macroeconomia. É ai que entra a
questão da política econômica. É uma coisa que tem relação com a busca que o
governo deve fazer para manter o nível de emprego e geração de empregos em bons
patamares.
O que chamamos de dinâmica econômica que requer que o
governo continuamente esteja ativo e atuante na sociedade para manter e dar
condições à sociedade de ter boas oportunidades de realização de renda,
portanto emprego digno. A intervenção do governo mostra como é importante o
papel da política econômica.
Digamos, por exemplo, o fenômeno do baby boom. É comum em cenários pós-guerra. Normalmente, sem
perturbações como essa, em qualquer sociedade temos uma taxa de natalidade, uma
taxa de mortalidade, e uma taxa natural do crescimento. Há países que estão com
a população muito envelhecida, como o Canadá, com famílias reduzidas, e isso
fez com que a população envelhecesse muito. Sempre há uma dinâmica natural
nisso. À medida que a renda melhora e se distribui melhor, há uma tendência que
se estabilize a taxa de crescimento populacional. Mostra-se também que em países
menos desenvolvidos a taxa de natalidade é maior justamente pela necessidade de
mais braços para trabalhar. Os agricultores viam os filhos como um investimento
para a lavoura, por isso era comum que tivessem dez filhos ou mais. E à medida
que a economia se torna mais industrial, esse cenário vai mudando. Mas em todo
caso, independentemente disso, nos EUA houve um crescimento devido a um fator
externo não esperado, que foi o retorno dos combatentes da guerra. O problema
que isso suscita para a economia é: essa geração vem como uma tsunami na
economia. Quando eles chegam à idade de ir à escola, o governo terá que
investir mais em educação. Então, o governo tem que estar sempre caminhando um
pouco à frente da onda de crescimento populacional. O mesmo para o mercado de
trabalho. Atualmente, inclusive, o governo ainda está na fase final desse
plano, preocupado com a aposentadoria e previdência.
Em qualquer sociedade normal, independente do fenômeno que
acontece, é necessário que o mercado de trabalho comporte as novas pessoas.
Então o governo deve estar, continuamente, monitorando essas coisas e estar em
condições de lidar com essa situação e achar meios para não ter um colapso. A
partir daí, ganha relevância a parte histórica da política econômica.
Contrapõe um pouco com as idéias neoliberais. O que veremos hoje,
então, é o início dessa trajetória que chamaremos de importância da política
econômica visando o equilíbrio no cenário de crescimento econômico.
Como podemos medir o crescimento econômico país?
Primeiramente, observando o PIB, divulgado pelo IBGE. Há inclusive uma
metodologia internacional que deve ser seguida. O PIB é o produto interno
bruto. Interno é porque é nacional. A idéia é que essa expressão é um conceito
que tenta refletir a riqueza gerada no interior de uma economia. Como é medida
essa riqueza? Não é uma idéia muito complexa. Estamos preocupados em saber
quanto o pais produz num determinado ano. Porque num ano? Porque a maior parte
das variáveis só são mensuráveis em um período.
Por exemplo: dois produtores rurais conversam. Um deles diz
ao outro: “rapaz, qual foi sua produção?” E responde: “Eu produzi 100 toneladas”. Para a quem está
de fora, o significado disso teria que ser um pouco mais detalhado. Um pergunta
qual foi a produção anual, e o outro
respondeu em relação àquele período.
Um exemplo claro de uma variável que é medida no tempo são as coisas passiveis
de serem medidas no momento. Exemplo: estacionamento pago. Essa variável pode
ser alterada pelos fluxos, de entrada e saída de veículos. E a economia, em
geral, é assim também. Se alguém disser “a minha poupança é de 320 reais”, esta
será uma “variável estoque”. As poupanças se relacionam ao fluxo: tenho que
depositar e/ou tirar algo para que ela se mantenha nesse nível.
Como medir? A atividade econômica será medida pela riqueza gerada. A riqueza tem que ser medida
por aquilo que se produz. Então, a primeira coisa a fazer, em relação à riqueza
brasileira, é listar todos os bens que são produzidos no Brasil regularmente. É
uma tentativa, mas é pouco prático. Então, vamos melhorar. Listar então o que
se produz e as quantidades. Digamos, por exemplo, os automóveis. As quantidades
de automóveis vendidos são medidas em unidades. A quantidade de soja é medida
em toneladas, a de combustível em m³ e tecidos em metros lineares:
Automóveis |
Unidades |
Soja |
Toneladas |
Combustíveis |
Metros cúbicos |
Tecidos |
Metros |
Isso é bom porque dá para fazer uma comparação com o ano
anterior. Se o produtor tiver produzido mais toneladas de soja, podemos dizer
que houve um crescimento relativo.
Alguém pode dizer: “precisamos de algo mais prático, mais completo.” A única
forma de fazer isso é expressar em termos de valor. Então, colocamos, na tabela,
o preço médio de cada produto: o preço médio de cada unidade de automóvel, de
cada tonelada de soja, de cada metro linear de tecido, etc., e aí teremos
transformado cada um desses itens em uma quantia total. Ao somá-las, chegaremos
a um valor que dirá qual é a produção de bens e serviços produzidos ao final do
ano no Brasil.
Produtos |
Quantidades |
Preços médios em Reais |
Automóveis |
Unidades |
Preço médio da unidade |
Soja |
Toneladas |
Preço médio da tonelada |
Combustíveis |
Metros cúbicos |
Preço médio do m³ |
Tecidos |
Metros |
Preço médio do metro |
Isso tudo é o que chamamos de valor bruto da produção. VBP’ (‘ é para diferenciar do “P” usado para
“produto” ou “preço”.)
Ou então
Produção bruta total P’BT.
É o valor ou expressão monetária da produção de todos bens e
serviços gerados numa economia no período de um ano. Isso ainda não é tudo,
porque ainda tem um probleminha. É que esse valor não é uma medida fiel, porque
incorpora, nele próprio, o que chamamos de economia de dupla ou tripla. Vejamos
uma situação para explicar:
Lista
de produtos, do original para o final |
Trigo |
Farinha |
Pão |
O primeiro, o trigo, é matéria prima para a segunda (farinha)
que por sua vez é uma matéria-prima para o terceiro (pão, o produto final).
Suponhamos que seu Zé Lelé fabrica farinha. Ele adquire trigo de alguém e o
transforma em farinha. Suponha também que Zé Lelé adquira o trigo por um valor de R$
100.000,00 e pretende transformar esses cem mil reais em farinha. Mas se ele,
por exemplo, vender a farinha produzida pelos mesmos 100.000, a primeira
pergunta é: por que Zé Lelé transformou isso em farinha? Não ganhou nada e só se
desgastou. Então, ele tenho que ter uma remuneração como dono do moinho.
Digamos, então, que ele deixe de ser Lelé e venda a farinha por R$ 130.000,00.
30 mil é o valor que ele adicionou à farinha ao transformá-la.
Ele venderá a farinha para Quinzão, o padeiro, que a transformará
em pão. Então, seguramente Quinzão vai vendê-los por pelo menos 140 mil.
Coloquemos esses valores na lista, agora.
Lista de produtos, do original
para o final |
Valor (em milhares de Reais) |
Trigo |
100 |
Farinha |
130 |
Pão |
140 |
Total |
370 |
100 + 130 + 140 = 370. Viu como o trigo acabou sendo
computado três vezes? Qual é, então, a única forma de evitar esse erro? É
retirar o valor da matéria prima
incorporada. Então, devemos somar apenas os 30 mil + 10 mil à matéria prima inicial (o trigo, que vale 100 mil), que são os
lucros praticados respectivamente por Zé Lelé e Quinzão. O total correto, portanto, seria de R$ 170 mil.
Para melhorar a medida, então, vamos tomar o valor bruto da produção ou produção bruta total, que é uma medida
não confiável, porque contém impurezas; se removermos dela o
valor de tudo aquilo que é produto intermediário, ou, melhor dizendo, o valor
da produção intermediaria. Chegaremos, assim, ao valor adicionado bruto ou valor
agregado. No momento em que somos capazes de fazer isso, podemos observar
que a medida muda. Então, agora, quando retiramos daqui o valor da produção
intermediaria, chamada de P’I, chegamos ao conceito de valor adicionado bruto ou valor agregado bruto, que é conceitualmente igual ao valor ou a expressão monetária
da produção de bens e serviços finais gerados numa economia no período de um
ano. A única diferença é que antes tínhamos
todos os bens e serviços que foram substituídos por bens e serviços finais.
Isso nos dá uma idéia de que, quando medimos a atividade econômica, devemos
medir pelo valor agregado bruto.
Para entender o conceito, vejamos um exemplo:
suponhamos que
o professor trouxesse para esta sala um automóvel 0km da
Volkswagen. A pergunta
que se faz é: Esse automóvel é
“produção” ou “produto da
produção”? A única
forma de responder é: os pneus foram fabricados pela VW?
Não. Então, os pneus e
rodas já caem fora da análise. Vidros: também
não foram fabricados pela VW. Seguindo
esse raciocínio, ficaremos, no final, apenas com parte do motor,
o chassi, e
algumas outras peças. A VW comprou muitas peças de outros
produtores e montou o
carro. É o que chamamos de produto com
valor agregado. É isso que mede o PIB.
A própria imprensa nos dá uma noção errada do que é PIB.
Quando eles dão uma notícia de crescimento da economia, a noticia em geral é começada
assim: no ano de 2007, o PIB brasileiro, que é a soma de todas as riquezas produzidas no Brasil, cresceu 2,7%. É
sobre isso que falamos que o governo vai tentar atuar. A taxa de crescimento de
um pais é medida pelo PIB, que não é nada mais, nada menos do que a soma dos
valores agregados.
O PIB reflete tudo aquilo que é produção interna nas
fronteiras. Estamos medindo tudo aquilo que foi resultado da produção interna.
Temos várias fábricas. Entretanto, nem todas as unidades produtivas que atuam
aqui são de propriedade nacional. Temos, por exemplo, a General Motors. Ela
produz aqui dentro. No final do ano, ela manda parte do seu lucro para a
matriz. Então, temos uma renda enviada ao exterior que foi gerada aqui, mas que
não permanece no país. O mesmo para a Sadia,
que é brasileira, com filial na Argentina. Mesma coisa. Como vemos, o Brasil
tem uma renda enviada e uma renda recebida. Brasil é um país que envia mais do
que recebe. EUA recebe de muitos países e envia pouquíssimo. Então eles medem
em termos nacionais.
O PIB é a referência que temos para dizer se a economia
cresce ou não no período de um ano. China cresce muito porque lá estão
adicionando valor constantemente: lá há investidores europeus e de todo o
mundo.
A política econômica é a forma de promover a geração de mais
riquezas. Trabalharemos com a política econômica buscando a maneira como deve
ser a influência do governo sobre a atividade produtiva. Lá no início do curso,
falamos em sistemas econômicos, e falamos muito da economia de mercado. Quando víamos
as imperfeições ou defeitos dela, tinha um especial, chamado instabilidade conjuntural. A economia de
mercado não tem uma trajetória muito suave ao longo do tempo. Há momentos em
que ela apresenta elevações e quedas, e ela se comporta de modo não-homogêneo.
Essa imperfeição deve ser corrigida pelo governo, que deve atuar no sentido de
tornar essa trajetória o mais suave possível. É aqui que entra a importância da
política econômica. Isso nos leva a outro ponto. A atual crise que vemos no cenário
internacional, com a decisão do Congresso Americano de ajudar o sistema
financeiro, o que está em jogo é o que vem se falando desde os anos 90, que é o
modelo neoliberal. O que entendemos por postura neoliberal em termos econômicos?
O neoliberalismo é uma tese que defende o poder do mercado em alocar recursos,
direcionar e resolver problemas. É uma espécie de “darwinismo de mercado”, que
diz que apenas os mais aptos sobrevivem à concorrência, quando deixamos o
mercado ao sabor de suas forças, e o governo se retira para se tornar mero
observador. A tese neoliberal ganhou terreno a partir dos anos 90, que foi
quando começou a haver o processo intenso de privatizações iniciado pela
Primeira-ministra britânica Margareth Thatcher na Inglaterra. Para isso, temos
que voltar um pouco na história moderna relativamente recente da economia
mundial.
Essa chamada instabilidade sempre existiu. A rigor, a grande mudança que houve na forma de organizar a atividade econômica foi quando surgiu a revolução industrial em 1750. A revolução industrial levou as idéias do capitalismo industrial. O sistema capitalista, baseado na livre iniciativa, foi levado à frente, mas não ficou livre das oscilações. A primeira coisa notória foi a crise de 1929, o chamado "crack" da bolsa de Nova York. Foi o início de um período intenso que dominou o mundo ao longo dos anos 30. O mundo, como um todo, experimentou uma queda no emprego, na renda, na produção, nas empresas, o fortalecimento do nacionalismo exacerbado no terreno político foi um reflexo. Obra de Keynes: defendia a intervenção do Estado na economia.
Vamos ver o que é a política econômica. Entende-se como a intervenção do governo na economia com alguns objetivos: manter ou alcançar altas taxas de emprego e de crescimento econômico, com estabilidade dos preços, ou seja, sem inflação ou com ela no nível mais baixo possível.
Tipos de política econômica:
São as duas principais. Há também a política cambial.
A primeira é aquilo que está no âmbito dos gastos ou
despesas do governo voltado a interferir na atividade econômica e também na
tributação.
A segunda trata da gestão e administração monetária, política creditícia e taxa de juros. Na fiscal, temos, por exemplo, o PAC. Na monetária, vemos freqüentemente o COPOM se reunindo.