Filosofia

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Continuação da realidade para Platão e as críticas aristotélicas



Na aula passada então vimos como Platão prova a necessidade da existência do mundo das idéias e suas características. Em Platão, isso se dá por uma fase chamada fase lógica, em que ele deduz a necessidade da existência da realidade ideal. O que ficou faltando foi exatamente que essa é uma realidade contingente, mutável, e para sua condição de existência ela necessita da realidade ideal.

Mas como estabelecer a relação entre o mundo das idéias e o mundo empírico? Uma coisa é admitir a existência de um mundo ideal. Mas outro aspecto é: como se estabelece, da realidade ideal (a que contém as arkhai), a conexão com a realidade empírica? Ou como a realidade empírica existe a partir da realidade ideal. Isso Platão chama de teoria da participação. Enquanto a dedução das idéias é a fase lógica do pensamento platônico, a doutrina da participação é o que podemos denominar de fase epistemológica. Então, no mundo das idéias, temos a idéia de cachorro, cor, número 2, homem, preto, etc. Todas as idéias estão ali. Vamos pegar, por exemplo, a idéia de homem, e chamemos simplesmente de “homem”. A idéia de homem é eterna, absoluta e imutável. Aqui na realidade empírica, temos diversos indivíduos humanos. Então, a questão interessante para Platão é, dado que a realidade absoluta é a do mundo das idéias (mesmo que Platão não negue a realidade empírica), o que é a participação? Um bom exemplo seria que as idéias não estão propriamente na nossa estrutura. Nós temos a cor preta do pincel ou somos seres humanos ou somos machos, etc., mas as idéias não podem estar em nossa estrutura ontológica ou aconteceriam todos os problemas que vimos na aula de ontem. Então como se dá a nossa existência? Nós participamos da idéia de homem. É porque que somos homens porque participamos da idéia de homem e uma árvore é árvore porque participa da idéia de árvore. No final das contas, porque não podemos ter a arkhai na própria estrutura dos entes? Porque apenas um indivíduo seria homem, e excluiria os demais. Mas todos somos homens porque participamos da idéia de homem: é como a sombra e a luz. Só há a sombra porque existe a luz; a sombra é resultado da luz. Em total escuridão, pode haver o objeto, mas não haverá sombra. Se dissermos que as sombras são reflexo do mundo empírico, então nós somos o reflexo do mundo das idéias. A doutrina da participação diz então que, como entes empíricos, se não existirmos no mundo das idéias, nós deixaríamos de existir imediatamente. Ao morrer, deixamos de participar da idéia de homem e passamos a fazer parte da idéia de “cadáver” e/ou de “morto”.

A idéia de homem, então, ou a idéia de fêmea da espécie é uma idéia principal de nossa estrutura? Platão vai perguntar: existe uma idéia principal? Em nossa estrutura metafísica, temos primeiro que ser homens para depois sermos machos, fêmeas, pianistas, advogados, altos, baixos, calmos, irritados, etc. A idéia principal nossa, portanto, é a idéia de homem. Isso nos diferencia de árvores e cachorros. Neste caso temos a idéia de fêmea e macho da espécie. Evidentemente alguns indivíduos participam da idéia de macho e alguns participam da idéia de fêmea da espécie, mas ambos participam, simultaneamente, da idéia de homem. Somos homens mas, à medida que vamos participando das “sub-idéias”, é isso o que determinará o que somos. Por exemplo, se temos um porquinho, ele não participa da idéia de homem, mas da idéia de porco. Mas eles podem, também, participar da idéia de fêmea e macho. Por isso podemos dizer que há porco fêmea e há porco macho. Árvores participariam? Não, porque não podemos dizer que arvores são machos ou fêmeas no sentido usual do termo. Podemos, para as árvores, ter outras qualidades, como “ser alta”.

Voltando aos homens: podemos ter pessoas que são loiras, e podemos ter pessoas que são mulatas. Então, como estruturamos este indivíduo aqui? (Professor aponta para Lucas) O que é Lucas? É uma complexidade: é indivíduo (tem unidade), mas é complexidade de idéias, ou seja, a participação dele na idéia de homem, que é a central. Assim sendo, ele também participa da idéia de macho da espécie, e da idéia de ter cabelo, e muitas outras. Mas, no final das contas, qual das idéias é a que na realidade é a mais contingente (efêmera, passageira, dependente de uma contingência)? Ter cabelo, porque ele pode deixar de ter cabelo amanhã. A doutrina da participação de Platão diz: como se dá a individuação (tornar indivíduo)? É a fase ontológica. A participação é a relação que nós, como entes empíricos, temos com a idéia que nos torna indivíduos. No caso da participação, esta relação é de dois pontos, como “ser filho de”. Vejam: “Dom Pedro II é filho de dom Pedro I.” “É filho de” é uma relação. Está acima de, abaixo de, entre e outras são expressões que designam relações. A participação, portanto, é uma relação como esta de Dom Pedro, que é uma relação chamada binária (de dois lugares), do tipo Z R Y. Preenchemos X com um determinado nome e Y com um determinado nome. Se digo “São Paulo está entre o Rio de Janeiro e Curitiba”, isso é chamado de relação de três lugares. X tem uma relação com Y e Z. Simboliza-se assim: Rxyz (relação com três lugares, de três variáveis). A menor relação de todas é a relação de apenas um lugar: “Pedro é advogado.” É um predicado simples. Uma determinada propriedade P é atribuída a um sujeito X.

Neste caso, temos as relações. Relação de um lugar apenas, ou de dois lugares, ou mais. Evidentemente a participação é uma relação de dois lugares: uma idéia com um indivíduo. Então a participação é uma relação binária ou de dois lugares entre a idéia e o ente empírico. Esta relação faz com que o ente empírico se torne um indivíduo. É um processo chamado individuação. À medida que alguém vai participando de determinadas idéias, o sujeito vai se tornando determinado indivíduo. Um indivíduo tem determinado conjunto de participações que outro indivíduo não pode ter, ou ambos seriam o mesmo indivíduo.

Mas e se fizéssemos um clone perfeito de alguém? Admitamos que, teoricamente, consigamos criar um clone tão perfeito que seria, no nível atômico e psicológico, idêntico ao indivíduo original. Inclusive na forma de agir. A tese cairia? Afinal, o clone teria o mesmo conjunto de participações em do original, portanto o mesmo conjunto de participações em diferentes indivíduos. Platão responderia: ainda assim haveria uma característica que o indivíduo original teria e que o clone não teria, que mostraria sua individualidade. Essa característica, que implicaria a diferença total entre eles, é que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar do espaço! Então, haveria uma idéia de participação em termos de coordenadas espaciais. Isso seria um fator de diferenciação entre dois indivíduos. Enquanto um indivíduo está sentado e seu clone está em pé, há a diferença entre eles, naquele momento, pelo primeiro participar da idéia de “sentado” e o segundo participar da idéia de “em pé”, então já conseguimos atribuir duas idéias diferentes a eles, portanto já não podem ser o mesmo indivíduo. Até as condições de tempo e espaço são consideradas para a complexidade do indivíduo. E é por isso que nós temos como explicar este mundo. Este mundo é uma reprodução em imagem do mundo perfeito, o mundo das idéias. É a famosa alegoria da Caverna. ¹ Veremos, depois, que, na esfera do conhecimento, temos que sair do mundo empírico para chegar ao conhecimento absoluto totalmente certo, conhecimento que não se tem dúvidas.

Neste mundo, temos que uma pessoa pode agir com justiça. Mas ela é “A” justiça? Não. Ela participa da idéia de justiça toda vez que suas decisões são justas. Ao não participar da idéia de justiça, ela tomará decisões injustas. Logo, a justiça está no mundo ideal também, juntamente com todas as outras idéias.

A metáfora não é de Platão, mas de Santo Agostinho, que é platônico. Santo Agostinho tem um problema na mão: como resolver a existência de Deus. Pode-se fazer até por dedução. O mundo empírico não é problema. O problema é: como Deus, que está na condição do ente absoluto e ideal por excelência, teria criado o mundo. Se Deus é o ente absoluto, ou a própria condição absoluta de toda a realidade, então ele tem essas características: ele é eterno, imutável, etc. Mas no momento em que criamos o pincel, não temos um movimento? Temos, no primeiro momento, que pensar e projetar. Temos que ter, depois, movimentos físicos: criar máquinas para fazê-lo, etc. Evidentemente podemos eliminar a fase empírica de Deus porque ele é absoluto, mas não é possível eliminar a fase do pensamento. Se Deus vai criar, ele tem que pensar no que está criando. E se pensa, o pensamento começa a ter movimento. E essas idéias são imutáveis. As idéias não criaram o mundo, diz Platão. Para os gregos, o mundo é eterno, e não há um Deus que o cria. A configuração deste mundo é de acordo com o mundo das idéias. No momento em que a idéia é refletida no mundo, o mundo se organiza de acordo com a idéia. Essa é a participação.

Mas Santo Agostinho não pode partir disso porque ele é cristão, então como Santo Agostinho resolve o problema, platonicamente (já que Santo Agostinho era platônico)? Como resolver o problema da mente de Deus? Vamos ao Cristianismo. Temos, portanto, Deus. Neste caso, Deus tem todo o conhecimento eterno de todas as coisas. O que se faria para que Deus tivesse todo o conhecimento? Deus é entidade religiosa, mas temos que dar um aporte filosófico para ele. Deus teria que estar além do mundo das idéias, porque o mundo das idéias não participa do mundo empírico. A Bíblia diz que somos criados à imagem e semelhança de Deus; não apenas na razão mas na volição e na vontade. As idéias não têm vontade nem paixões. As idéias são pura condição de substância, mas não são racionais no sentido de que elas teriam a racionalidade. As idéias são a própria mente de Deus em seu pensamento! Santo Agostinho pega todas as idéias platônicas e coloca na mente de Deus. Por isso Deus pode nos criar, pois o homem está eternamente no pensamento de Deus. “Tu estas desde eternamente em meu pensamento.” Não houve um processo de pensamento, pois as idéias não estão eternamente nele. Nós compreendemos as idéias e as compreendemos num determinado momento. Nós existimos num determinado momento e deixaremos de existir. Como ele cria? Pela palavra. Pela própria idéia que surge no Velho Testamento e depois no Novo Testamento. No momento em que Deus pensa o homem, o homem tem que existir. Essa é a solução Agostiniana para o problema seríssimo que o Cristianismo tem. Deus é eterno e ainda assim cria o mundo.

Demiurgo: criação de Platão exatamente para processar a constituição do mundo. Esse Demiurgo, na verdade, é um tipo de entidade. O mundo é eterno. Mas como ele se configura? Por que temos este mundo onde a Terra está no centro dele; por que esta configuração? A idéia de demiurgo vem, então, para explicar como o mundo existe, mas não por que existe. O mundo é eterno, mas o Demiurgo é como um grande escultor. Ele toma a condição da matéria no mundo e observa as idéias e, a partir delas, vai modelando o mundo. É o jeito de responder a pergunta: como o mundo se configura. Como as idéias não são ativas, e não têm inteligência, mas são objetos dela, então elas necessitam um ser que faca a reprodução delas no mundo. Esse é o Demiurgo. Podemos ver que ele, na verdade, é uma tentativa para resolver, mesmo que não seja elegante. Até agora, a dedução e participação são duas teses elegantes, mas a do Demiurgo foge à essa elegância porque ele teria que montar a própria idéia de Demiurgo. É aqui que surge o problema da teoria platônica. Nisso entrará Aristóteles!

Santo Agostinho não tem problema com isso porque quem é o próprio Demiurgo do mundo? Deus. Ele é a própria condição das idéias, ele é o pensamento das idéias platônicas, e ele cria o mundo porque as idéias em si não têm vontade. Daí Santo Agostinho resolve esse problema de “elegância da tese de Platão segundo Aristóteles.”
 

Críticas Aristóteles ao modelo de pensamento platônico

Vejamos: o problema interessante é que Aristóteles desenvolve uma crítica, chamada crítica do terceiro homem. Estudando a tese aristotélica e a platônica, o professor notou duas outras possíveis críticas que Aristóteles poderia ter feito a partir de seu pensamento. Vamos entender primeiramente a crítica própria de Aristóteles. Ela é chamada de “terceiro homem”. É denominada assim exatamente porque ele usa a idéia de homem como ponto de crítica.

Temos, portanto, os indivíduos humanos, e sabemos toda a confusão que nos interessa. Segundo Platão, temos uma relação que existe entre a idéia de homem (presente no mundo das idéias) e os indivíduos humanos (presentes no mundo empírico). Vamos chamar esta relação de P (participação): a participação da idéia de homem com esse indivíduo humano que concebemos. Aí vem o ponto interessante. A participação em si tem que existir também, o que é a formulação da tese ante rem de Platão: nada há no pensamento ou no mundo empírico que antes não exista no mundo das idéias. Então somos obrigados a admitir que existe uma idéia de participação (P1) entre o dito indivíduo e a idéia de homem. Logo, é necessário que exista a idéia de homem lá no mundo ideal. Mas isso causa um problema interessante: qual? É que, dado que esta idéia de participação relaciona essa idéia de homem com este indivíduo, temos que continuar o processo, segundo Aristóteles, já que a própria participação tem que ter sua idéia correspondente no mundo das idéias. Como toda a condição se dá por participação, devemos admitir que existe uma nova participação, segundo esta primeira. E, para essa segunda participação, outra, daí uma progressão geométrica. Isto tenderá ao infinito: é a famosa regressão ad infinitum dos céticos. Em outras palavras, para Aristóteles, nunca teremos uma relação original, pois sempre teremos que criar novas idéias para explicar idéias anteriores. Quer dizer, então, que não teremos uma primeira suprema, que explica todas as outras, e, portanto, não se terá a explicação da idéia de “porque o homem participa do mundo das idéias.” Platão tenta uma solução para isso, na Alegoria da Caverna, de que a idéia de bem é a idéia suprema. Na narrativa, ele chama a idéia de bem de “Sol”: aquilo que ilumina tudo. Então, o bem faz com que possamos ter as demais idéias, e assim Platão estabelece uma idéia suprema. Mas Aristóteles poderia continuar: para provar que um indivíduo é bom, seria necessário provar que ele participa da idéia de bem, mas, para isso, seria também necessário provar que existe uma relação entre bem e a idéia de bem, e nunca se chegaria a um fim. Isto é o que Aristóteles chama de terceiro homem. A idéia de Platão seria problemática porque nunca teríamos a idéia suprema, ou a idéia das idéias; sempre seria necessária mais uma para estabelecer o “link” com a anterior. Isto é para uma só participação. Imagine, agora, as N participações que existem? Para Aristóteles é uma confusão de reduplicação da idéias desnecessárias. Por isso que para Platão o mundo das idéias é extremamente lotado. Daí ele seria inconsistente, já que admitiria a regressão infinita, ou seja, admite a crítica cética, e mais, admite uma anti-economicidade.

Daí vem Guilherme de Ockham (1280 – 1349), que elabora seu princípio da Navalha de Ockham: non multiplicanda entia sine necesitate = não multiplique os entes sem necessidade. O que é exatamente o que Platão faz: ele introduz milhares de idéias do mundo das idéias, inclusive as inconsistentes, e, para cada uma delas, uma adicional tem que ser posta (a da própria participação, como apontou Aristóteles, e para esta participação mais duas, e assim por diante); daí a inconsistência da regressão infinita implica a onerosidade e na complexidade desnecessária do mundo. Para Ockham, o mundo pode ser complexo, mas sua explicação tem que ser a mais simples possível. Por isso abandonamos a teoria de Ptolomeu do geocentrismo para explicar a mecânica celeste e adotamos a de Copérnico que é o modelo heliocêntrico. Por exemplo: com o modelo geocêntrico, é muito mais difícil explicar os movimentos de algumas estrelas em relação à Terra, que, ao longo do ano, iam do horizonte até o zênite, mas sem completar a semi-circunferência na trajetória, ou seja, essas estrelas voltavam à porção do horizonte que estavam no início do ano em vez de cruzar o Céu por completo. Como o modelo geocêntrico não poderia explicar sozinho tais fenômenos, Apolônio de Perga desenvolveu a tese dos “epiciclos”, que dizia que certos corpos giravam em torno de outros e estes, por sua vez, girariam em torno da Terra. Assim encontrou-se uma explicação para a estrela que não completava seu movimento no céu. Essa ficou, então, como a explicação mais simples para o fenômeno, o que permitia afastar outras conjecturas obscuras. Posteriormente veio Copérnico com o modelo heliocêntrico.

Há outras duas críticas que podemos tirar da tese aristotélica:

1) Entes inconsistentes: a tese ante rem de Platão diz que nada há aqui no mundo empírico que antes não exista no mundo das idéias. Essa é a base da crítica. Neste caso, Platão diria o seguinte: a sentença “circulo é a figura geométrica cuja a superfície é limitada por uma circunferência, que, por sua vez, é o conjunto de pontos e eqüidistam de um ponto central”. Para continuar, simplifique e imagine apenas um círculo. Platão não teria problema com isso porque para qualquer circulo que se conceba, haverá a mesma distância da extremidade até o centro. Mas, e se eu disser assim: "círculos gulosos devoram quadrados sonolentos". Falso, certo? A definição de circulo permite que se aplique o predicado “guloso” a ele? Não, por isso falso, e isso não pode ser nem concebido. Um quadrado também não pode ser sonolento. No fim das contas, o circulo guloso seria uma entidade inconsistente. Também poderíamos, por exemplo, ter uma entidade mais inconsistente ainda. Vamos complicar:

“Círculos quadrados devoram triângulos redondos.”

É uma contradição total. Mas não podemos pensar nisso? Sim. Assim, podemos ter, no mundo das idéias, círculos quadrados, mas círculos quadrados são impossíveis! Daí a idéia de entes inconsistentes. Se assim fosse, o círculo quadrado teria que estar lá, e o mundo das idéias teria que comportar idéias completamente contraditórias. Neste caso, círculos gulosos fariam com que este indivíduo que é um circulo participasse da idéia de círculo e da idéia de guloso. Da idéia de guloso só pode participar um animal, mas não um círculo, ou isso seria inconsistente. 2800. Então criamos, no mundo das idéias ou no mundo empírico, idéias completamente contraditórias. Não podemos dizer, então, “este indivíduo é circulo” e “este indivíduo é guloso” para o mesmo ente.  

Isso só serviria na poesia, que Platão sabe ser irracional, já que só a racionalidade pode estabelecer o link do mundo empírico com o mundo das idéias.

2) Teoria do nada de Aristóteles. Ao dizer "o nada existe", o que estamos dizendo? Estamos atribuindo o predicado de existência ao sujeito “nada”. O verbo “ser” está no “nada”. O nada é existente. Mas qual é a definição de nada? Exatamente aquilo que não existe. Por exemplo, não podemos dizer que o conjunto vazio da Matemática é o nada; ele existe matematicamente.  Ele é o equivalente, em conjuntos, do zero. Imagine como uma caixa sem nada dentro:  ela ainda existe. O nada, aqui, é o não ser, ou aquilo que não existe, ou a não existência. Mas, segundo Platão, admitido que o nada existe, a idéia de nada deve existir no mundo das idéias. Isso significa que o não-existente existe! Isso é uma contradição. Isso é chamado, em lógica, de contraditio terminis. Uma contradição de termos, ou contradição interna. Posso dizer “Amanda existe”, ou “o zero existe.” O conjunto vazio existe. Mas não posso dizer o nada existe, porque é uma contradição. Então, neste caso, o mundo das idéias de Platão teria que admitir uma entidade que é completamente contraditória, que nem chegamos a dizer “inconsistente”. O círculo guloso é inconsistente, mas o nada é totalmente contraditório. O nada não pode existir. Daí vem Aristóteles dizendo que o nada é a ausência. Mas veremos isso em Aristóteles.

A partir dessas três críticas, Aristóteles desenvolve sua teoria: dado que o mundo das idéias é totalmente problemático, eliminamos o mundo das idéias! Qual a solução de Aristóteles, então? Como ele continua sendo realista, admitindo parâmetros, critérios válidos para a existência do mundo e da realidade sem a necessidade de criar um mundo totalmente problemático e contraditório, totalmente antieconômico. É o que veremos na aula que vem.


Leiam logo o livro VII da República de Platão.

Termos do dia:

  1. Doutrina da participação;
  2. Demiurgo;
  3. Princípio da navalha de Ockham;
  4. Entes inconsistentes;
  5. Teoria do nada de Aristóteles.