Filosofia

terça-feira, 31 de abril de 2009

Conclusão de Nietzsche e os anti-teóricos



Esta nota infelizmente padece de algumas brechas. As falhas estão enumeradas no rodapé deste documento.

Na aula passada estávamos vendo o modelo nietzscheniano. ¹ Nietzsche, juntamente com Schopenhauer, são filósofos anímicos. Para todos os teóricos da filosofia anímica, a razão empreende um domínio: o domínio da impossibilidade de o homem ser autêntico. Isso significa que vamos agir conforme aquilo que se determina racionalmente como correto ou incorreto.

Apesar de Nietzsche admitir que devemos estabelecer as paixões como valores do homem, também não podemos ser determinados por elas. Tomemos o exemplo do amor para os românticos: por mais que Schopenhauer admita que exista uma condição de determinação do homem pela vontade de poder, essa condição ainda estaria atrelada ao amor. Mas para Nietzsche, até mesmo o amor, se colocado como o elemento que vai dominar a vontade, esse amor se estabelecerá como meio de controle dos outros.

Qual é o maior desejo daquele que ama? O que ele mais quer em relação ao objeto amado? Possuir. O amor cristão é um exemplo extremo disso, que Nietzsche critica severamente. Porque Cristo morre pelos homens? Para libertá-los? Nietzsche diz que não. Ele liberta de quem para o quê? Liberta o homem do pecado e leva para a Salvação. Mas o que significa essa salvação? Estar do lado de Deus. Assim, o amor cristão é uma forma de posse, de domínio: o homem livra-se do pecado ao mesmo tempo que se torna posse de Deus. É aí que vem a condição de determinar o bem e o mal. “O que comigo não ajunta, espalha, e o lugar daquilo que espalha é o lugar de choro e ranger de dentes” (Livro de Mateus). O amor de Cristo, apesar de ter a condição sacrifical, ainda deseja o outro sob sua tutela. Por mais que se diga que “o amor cristão liberta no sentido de que esvazia do próprio ego”, ainda assim esse ato esperaria o reconhecimento do outro, logo é outra forma de posse. De algum modo, se se deixa a fé, o amor ou a razão dominar a vontade, esta não será autêntica, e o homem, por conseguinte, também não será autêntico. A vontade é o alicerce do homem, a função da alma que detém a liberdade. O que é vontade de potência, na forma nietzscheniana? Para isso, é interessante anotarmos os dois espíritos que estão ligados à conduta de domínio tanto da razão, quanto da fé, quanto do amor: o espírito da ovelha. É o espírito do bicho burrinho, que tudo imita. Se você a deixa solta, ela se perde ou é comida pelo lobo. Por isso é interessante que mesmo no Cristianismo a ovelha é um bicho burro, portanto ela precisa de um pastor, que a leva para o abrigo e a guia. O cajado do pastor é uma defesa contra lobos, e também – diz Nietzsche – para bater na cabeça das ovelhas desgarradas. O espírito da ovelha é espírito do conformismo. Epiteto (55 – 135) é um filósofo grego que fala sobre isso. A atitude do homem frente ao mundo é: “não deseje que o mundo seja conforme você deseja, mas deseja ser conforme o mundo é, e tudo ficará bem. Ou você não terá nada.” É o conformismo total. Do outro lado, temos outro espírito, apesar de explicitamente diferente do da ovelha, mas pertencem aos mesmos indivíduos: os homens: o espírito do cego. 

Para ficar mais fácil de entender o espírito do cego, vejamos: qual é o maior desejo dele? Sabendo que só poderá recuperar a visão através de um milagre, o maior desejo do cego é, então, mandar e ser servido, que não pode fazer tudo por conta própria. O desejo de um funcionário é chegar a ser patrão. O espírito do cego é o espírito do domínio no sentido de que aquele que é cego sempre quer dominar o outro, só não teve oportunidade ainda. Então o espírito do cego, apesar de parecer contraditório, não é exatamente enxergar; ele apenas aguarda o momento da dominação. É um espírito inerente à condição do maior dominador. Pode ser um burguês, um proletário de Karl Marx, um capitalista de John Stuart Mill, um governante de Aristóteles (que é o único que tem sabedoria para tal), um sábio cristão de Santo Agostinho ou São Tomás de Aquino; todos eles, sem exceção, apesar de pensarem que estão dominando, na verdade não passam da ovelha com a sineta. Em outras palavras, de pensar que estão dominando, na verdade eles são dominados. Mas pelo quê? Pela própria civilização cristã ocidental. A confluência de todas as ovelhas e servos cria a civilização. Dominado ou dominante é apenas outro nome para alguém que se julga estar sobre os outros, mas na verdade ele é tão dominado por outros que vão mudando suas posições no dia-a-dia. O domínio então é oposto à idéia de autarkhéia: o domínio de si mesmo no sentido de a vontade ser totalmente livre a tal ponto que ela não está mais presa aos ditames da civilização. É de onde vem o termo autarquia. Autárquico é “aquele que tem o próprio governo”. A vontade terá seu próprio governo, e não dependerá da razão, nem da paixão, nem da fé. Na verdade, ela é o determinador de toda sua condição com referência ao controle. Daí, essa idéia de vontade de potência é a autonomia da vontade, que nesse sentido supera o desejo simples de dominar. Ela não quer dominar, mas só se tornar totalmente autônoma. Essa é a vontade de potência de Nietzsche. Todo o resto é heterônomo, que está dominado por algo da civilização, mesmo que seja o mais importante sábio ou rei.

Cuidado: não significa que o homem de Nietzsche viverá isolado da sociedade. O super-homem não é um ermitão, como aquele que se retira para uma montanha ou ilha; este, na verdade, ainda carrega consigo a civilização.

A vontade de potência é por causa da condição de “vir a ser”, ou da condição de superar. O termo em alemão é “vontade de poder”, mas em português carrega um conceito dúbio, de domínio, que é exatamente o que Nietzsche não quer passar. Então, a melhor tradução é vontade de potência, para ter a potência para estar além das condições da civilização.

O que acontece de interessante é que o super-homem, que é o termo que Nietzsche usa, não no sentido de ser mais forte ou inteligente, mas de superar a humanidade da civilização, ou então aquele que se torna autenticamente homem, para determinar exatamente o que ele é. O super-homem não tem desejo de domínio. Ele pode estar dentro da sociedade, mas os ditames dela não interferem em suas convicções. Por isso que a noção nietzscheniana aparece numa obra chamada “Assim Falou Zaratrusta”. O que vem a ser? Zaratrusta é um andarilho que procura abandonar seu vínculo com a civilização, indo em busca da sabedoria. Ele percebe, ao longo da jornada, que ele vai carregando que ele era com ele. Ele percebe a autenticidade quando ele percebe que deve estabelecer sua vontade como totalmente autônoma. Disso não segue que o super-homem de Nietzsche viverá à margem da civilização; ele vive nela mas não se contamina por ela. O homem de Nietzsche não enfrenta; ele se coloca para além da civilização, e não tem intenção se enfrentar nela, como queria Marx, por exemplo. Ele só quer ser autônomo, mas a civilização não permite isso. É por isso que, numa outra obra de Nietzsche, ele coloca que o super-homem está “Para Além do Bem e do Mal”. Por quê? O homem que pensa que está no controle mas é mais uma ovelha, pois na verdade está sob o controle da civilização. Por isso esse homem vive criando cenários maniqueístas: sempre para ele haverá o bem e o mal; sempre haverá dois princípios. Quem determina o que é o bem e o que é o mal? O próprio controlador. Portanto, para se controlar, deve-se criar o bem e o mal. Então a civilização sempre coloca o que é bom e o que é ruim, o que é correto e incorreto. Isso é visível até mesmo no tempo de Platão, com a oposição entre trevas e luz, vista na Alegoria da Caverna. Sempre haverá, portanto, maniqueísmo.

Este maniqueísmo implica exatamente que a civilização está controlando, porque ela sempre vai estabelecer a busca do bem e a fuga do mal. Não interessa o modelo, sempre haverá essa dualidade, que é o espírito que a civilização quer. Ao ser controlado pela civilização, o homem é o servo, a ovelha. Por que o super-homem está para além do bem e do mal? Porque ele só quer dominar a condição de ser livre por vontade. Nesse sentido, definir o bem e o mal está abaixo dele, fora de suas preocupações; ele não precisa disso. Todos os que estão subordinados à civilização tentam definir o bem e o mal para controlar os outros, no fim das coisas.

Podemos ver que essa condição mítica do bem e do mal aparece até no dia-a-dia de hoje. Qual é a maior série de ficção cientifica? Star Wars. Bateu tudo em bilheteria. Qual é o mote? Bem versus mal. É confortável, para a civilização, que haja um representante do bem e um do mal. É melhor do que se comportar como a ovelha que tenta se desgarrar, ao questionar algo da vida. Por isso que, no modelo de Nietzsche, esse super-homem é um herói trágico, pois a civilização nunca aceitará que isso aconteça. A civilização o chamará de louco e tentará controlá-lo de algum modo. O interessante para a civilização é que o espírito do controle é importante. O que é, neste caso específico da condição de herói trágico? Vamos facilitar:

Nietzsche era um grande conhecedor do pensamento grego, das tradições greco-romano-germânicas. Dois heróis são eminentemente exemplares. O primeiro é Aquiles, o grande herói da Ilíada de Homero. Na Ilíada, Aquiles é chamado para compor o esforço grego de guerra contra Tróia. Não se pautem pelo filme de 2004, que distorce a história. Não foi Ulisses quem fez a afirmação que colocaremos, mas a mãe de Aquiles: “se você ficar aqui comigo, você terá uma vida longa, irá morrer, mas com seus filhos. Se for à batalha, você vai morrer, mas esta batalha será lembrada por toda a história.” Ela então pede que Hefestus faça para ele uma armadura, que é indestrutível, mas o calcanhar fica de fora. Ele é herói trágico por excelência porque sabe que vai morrer, mas ainda assim não volta. Ele não luta por um rei nem por vingança, mas por sua honra, por ser autônomo, por ser quem ele é. E ele sabe que seu fim será esse. Um equivalente de Aquiles na tradição mítica germânica é Siegfried, personagem que influenciou J. R. R. Tolkien na criação de O Senhor dos Anéis. Siegfried, o segundo exemplo dado por Nietzsche, era um guerreiro que derrotou um dragão numa batalha, e, como espólio da vitória, banhou-se com o sangue do animal. Esse sangue tinha a propriedade de deixar aquele que por ele fosse coberto impenetrável e imortal. Mas, no momento em que Siegfried estava passando o sangue em seu corpo, uma folha caiu em suas costas, deixando uma pequena área sem a cobertura de sangue. Este ficou sendo seu ponto fraco. Ele sabia disso, e sabia que seus inimigos sabiam dessa condição. Ainda assim ele vai para a próxima batalha, em busca do Anel de Nibelungen (uma comunidade de espíritos), que, quando recuperado, traria o bem. Siegfried acaba morto com uma lança arremessada sobre aquele ponto das costas onde a folha havia caído.

Essa é a idéia que está por trás do super-homem: ele é um herói trágico. Mesmo assim ele se apresenta como autônomo. Então, entendendo a situação do super-homem como herói trágico, entendemos a situação dele para com a sociedade, que não quer deixá-lo livre, pois, sendo livre, ele causa um terremoto no meio da convivência que pode acabar por criar outros super-homens, até esvaziar a civilização a ponto de ela não mais existir. Por isso a sociedade tentaria reassimilá-lo. Nietzsche falaria, hoje, dos hippies: eles pregavam uma autonomia das normas e de serem autênticos. Se não se conseguir pegá-los de volta, eles têm que ser eliminados.

Daí vem um outro elemento do super-homem: numa outra obra de Nietzsche, ele identifica o super-homem como “o anticristo”, não no sentido cristão, como aquele que viria para dominar os pecadores, a besta do apocalipse e assim por diante; não seria porque esse também seria uma ovelha, e, na doutrina de Nietzsche, seria mais uma criação do Cristianismo para que os fiéis ficassem com medo e permanecessem junto a Cristo. Ele é anticristo no sentido de antípoda total à idéia do Cristianismo, cuja doutrina, para Nietzsche, seria o maior exemplo de ovelha e servo. Isso porque seu sacrifício visa trazer todos para si. É aí que se opõem as noções de liberdade de Nietzsche e livre-arbítrio do cristão. Para ele, o anticristo é aquele que está totalmente oposto ao Cristo. Como Cristo é a configuração máxima da ovelha e servo, o anticristo de Nietzsche não tem essa intenção e esse querer. Tanto que Nietzsche critica o colonialismo alemão, que se baseia no aspecto de que “eu sou melhor que você.” Ele criticava os que assim diziam: “Por que posso colonizar sua nação? Porque sou superior e vou te ensinar a ser europeu.”

O super-homem é exatamente o anticristo nesse sentido: é a negação completa do que Cristo representa para o ocidente: domínio dos fiéis.

Por isso, Nietzsche entende que a teoria pode ser usada, mas é mero instrumento de apresentação. Para ele, a teoria é própria para a ciência, ou das Filosofias que tendem a usar a razão como fundamento. Mas ele dá um exemplo dessa contra-face numa das obras, com uma passagem de apenas dez páginas, denominada “a Origem da Tragédia” (traduzida pela coleção Os Pensadores.) Logo no começo, ele propõe uma metáfora: a Filosofia e a ciência, encucadas no filósofo e no cientista. É assim:

Os dois andarilhos chegam, depois de passar pelo bosque, ao riacho. Ligando as margens há pedras, e vêem um facho de luz do outro lado. Ambos contemplam o facho, querendo saber o que é. Qual a atitude do cientista, ou de todos que usariam a razão? Como que, tateando com os pés, ele testa a pedra, querendo saber se ela está solta ou escorregadia, e nisso vai passando, cuidadosa e seguramente, de pedra em pedra. Enquanto isso, o filósofo, tendo como prêmio a contemplação o objeto, como que tendo asas nos pés, flutua por cima do riacho mal tocando as pedras. É exatamente essa a diferença dessa autonomia: de não estar preso, não precisar de conforto e segurança. Por isso o filósofo consegue chegar ao objeto contemplado, e por isso também que a filosofia consegue se expressar além da teoria, como por exemplo pela música. Daí Richard Wagner, com suas óperas trágicas, como o “Anel de Nibelungen”, que conta a história de Siegfried. Por isso que Nietzsche e Wagner se tornaram amicíssimos. O resto dos filósofos seriam os românticos, barrocos, fideístas, etc. Mas quando o próprio Wagner compõe as peças, Nietzsche rompe com ele por julgar que Wagner se desvencilhou. ²

“Aquele que deseja ser anjo torna-se monstro. Torna-se um demônio no sentido de ter que dominar os outros.”
 

Os anti-teóricos

Há outra tendência geral na Filosofia que formaliza sua crítica à teoria a partir não de um aspecto ou uma das funções da alma, mas de um dos campos teóricos da Filosofia. Esses são os anti-teóricos. Cuidado com essa noção. Significa que os fundamentos do constructo teórico da Filosofia são criticados. Eles admitem que a filosofia se opõe à teoria em algum aspecto, mas podem usar a teoria de novo como instrumento. Os anti-teóricos se opõem à construção da própria teoria. Então temos três grupos que colocaremos a seguir; cada um se baseará em algum aspecto.

  1. Existencialismo;
  2. Ceticismo;
  3. Sofística.

O existencialismo se funda na construção de uma teoria da realidade e da metafísica, que são nossos temas subseqüentes. Esta concepção faz uma construção da realidade segundo uma teoria, especialmente a realidade do homem, ou seja, a crítica dos fundamentos da metafísica. E aí se opõem a noção de essência e a de existência.

Outro grupo é o dos céticos, o ceticismo. O ceticismo volta sua crítica não à construção da realidade, mas ao conhecimento humano. Daí eles estabelecem a oposição entre conhecimento teórico e conhecimento comum.

E o último grupo é o dos sofistas. A sofística estabelece a questão da linguagem. Trabalha sobre o plano da linguagem, da retórica; a linguagem como construtora do mundo. Neste caso, estaríamos na teoria da linguagem. A oposição para os sofistas é exatamente entre a lógica e a linguagem. Para eles, a lógica é uma forma de domínio e controle da linguagem.

Ao acabar isso, vamos encerrar toda a abrangência das Filosofias. Vamos começar pelo existencialismo.
 

Existencialismo

Para os existencialistas, qual a questão fundamental? É que todos os modelos que vimos até agora se baseiam numa condição que determinam o que o homem é a priori; em outras palavras, a definição do homem ou de sua natureza. Antes de ele agir, conhecer ou ser, o homem é determinado por uma natureza que o define, que estabelece como ele agirá. Logo, para as outras concepções da Filosofia, existe uma essência, que definirá o que o homem é e será. Essa essência contrapõe-se a idéia de existência, o modo de existência do homem na sociedade. Então, na verdade, esta é uma questão da realidade: a existência é o modo de o homem existir em tal ou qual condição. O modo do homem existir é algo que o próprio homem define, e não está previamente dado pela Natureza. É essa a idéia defendida pelo existencialismo: não há nada que predetermine o que o homem é ou será. Tudo é pura existência, e não há essência alguma.

Qual nosso próprio modo de existir? Para Aristóteles, nosso modo de existir depende de nossa essência. E nossa essência é a racionalidade, elemento que outros animais não têm. Partindo da acepção de que o homem é um animal racional, segue que ele tem que ser um animal político. Essa é a definição de Aristóteles. Qual nosso modo de existir, então? Sempre temos que constituir uma cidade! Ele pode constituir a polis ou até uma cidade tirânica. Mas de alguma maneira o homem sempre constituirá a polis. Pode constituir o que quiser, mas vai constituir uma comunidade política. Por natureza, o homem não escapa: ele só pode constituir a polis porque o homem é racional. Isso porque por trás de tudo está a natureza do homem, sua essência. Ele pode até ter liberdade de ação, desde que dentro dos limites da essência. Daí existe um fundamento para o homem, que determina seu modo de existir. Os modos de existir do homem já estão, por natureza, determinados, mesmo os que vão violentamente contra a Natureza. Por isso que racionalmente podemos determinar o que é uma ação boa e uma ação má.

O Cristianismo também determina um modo de existir do homem a partir de uma natureza, que é criada por Deus: Deus criou o homem bom, diz o livro do Gênesis. Foi o homem que, por sua livre e espontânea vontade, violentou a relação com Deus e pecou. Entretanto, de qualquer modo o homem foi criado por que motivo? Para amar e adorar a Deus. Santo Agostinho tem uma obra que conceitua o livre-arbítrio. O que é? Acredita-se que é a condição do homem de decidir entre bem e mal, certo e errado. Essa conceituação de livre-arbítrio é uma conceituação errada, que não entenderam direito da obra de Santo Agostinho. O agir no sentido de optar entre o bem e o mal é uma conseqüência. O livre-arbítrio é baseado numa noção de Aristóteles: ³. O homem foi criado por Deus. Então, qual é o lugar comum para o homem? O próprio Deus. A tendência do homem é para Deus; do mesmo modo que a caneta de quadro vai cair se abandonada no ar. Só que, diferentemente da caneta, o homem tem a vontade, e essa vontade leva o homem a poder violentar essa sua natureza para com Deus. O homem pode decidir pecar por livre vontade. À medida que o homem vai abandonando o pecado e escolhe Deus em todas suas ações, ele simplesmente vai se aproximando D’Ele. Ora, então o homem tem condições de escolha: ou Deus, ou ofender Deus. O livre-arbítrio é a tendência do homem a seguir na direção de Deus. É por isso que Nietzsche não aceitava essa tese do Cristianismo porque se trata do espírito da ovelha, de querer que todos sejam iguais a Ele. Mas, para o existencialista, algo semelhante se põe, não apenas com relação ao Cristianismo, mas com relação a todos os teóricos que admitem que há uma essência: o homem será e agirá a partir de tudo que o define. Por mais que o homem não queira, Deus é o seu lugar comum. A existência do homem pode ser em alguns modos: modo de existir segundo Deus e modo de existir segundo as paixões.

Pequeno paralelo com o empirismo: o empirista discorda que o homem tem uma essência, porque para ele tudo que é base do conhecimento são os sentidos. Não se vê a alma. Para o empirismo, não vemos a racionalidade. A alma seria o produto do cérebro; então não há coisas imateriais, e tudo é constructo empírico do homem. De qualquer forma o existencialismo critica o empirista porque este transfere a natureza humana para a condição social.


  1. Neste começo de aula eu me atrasei e não consegui anotar corretamente o primeiro parágrafo, e a gravação, para azar nosso, também só funcionou depois de uns 2 minutos de aula. No comecinho o professor fez menções à diferença entre Nietzsche e Schopenhauer (vontade x amor), paralelo com o Mito da Caverna, equiparação feita por Nietzsche entre Filosofia fundamentada na razão com o conhecimento ligado ao deus-sol grego Apolo.
  2. Aqui havia uma brecha entre o rompimento de Nietzsche com Wagner e o próximo parágrafo.
  3. Aqui novamente o professor acelerou. Acredito que esta seja a falha nesta página mais feriu o texto no sentido de nos privar de uma informação relevante: saber qual era a lição de Aristóteles que desaguaria na idéia de livre-arbítrio.
  4. Esta frase terminou com uma menção sobre uma crítica que o existencialista faria a Nietzsche baseada na idéia de essência.
  5. Houve uma última frase. Esta eu infelizmente não me recordo mesmo.